quinta-feira, 12 de abril de 2007

Descrente de mim

Diz-me da luz que declamas nos cais deste conforto
cheio de marés que vão e voltam sem nenhum susto,
e do anjo sorridente que lhe doura teu formoso busto
enquanto as fiéis asas sopram milagres em tal horto.


De mim, quero o esquecimento dos réus que afloram,
todo santo dia um novo e sem graça faceiro suicídio,
romaria demente tocando as tantas amargas insídias
das cordas em flores ciprestes nos lutos que assolam.


Faço-me, então, ser mais humana num imundo beco,
prenhe de versos e sendas mentirosas qual uma atriz,
faço-me até um ser de luz tão compreensiva e infeliz,
emanando flor do retorcido e desanimado galho seco.


Acordo agora distante e descrente aqui neste confim,
cega no meio desta inconclusa e empoeirada cancela
aberta ao nada, somente o cinza da irônica aquarela
manchando os horizontes verticais do muro em mim.