sábado, 28 de julho de 2007

UMA DAS MULHERS QUE ME HABITAM

Mulher pura e recatada,
Leva a vida enclausurada,
Foge de si e de seus pecados,
Cometidos no breu da noite,
Quando o vento lhe serve de açoite.
A vida tem lhe moldado a ferro e a fogo,
Tem podado os seus renovos.
Mulher que vira brasa,
labareda Incendeia, se aniquila
Pela solidão se envereda,
Bebe a taça da amargura tranqüila.
Mulher em estado líquido
Derrete, escorre, serpenteia
No meio do nada, do sem sentido.
Com as mãos faz da vida sua teia.
Ri de si, se mostra contraditória,
É um ser bem transitório.
Mulher que se deixa levar pela vida
Rio domado, presa, desvalida,
Feito lagoa serena,
Ou touro na arena.
Entrega-se, despede-se de tudo
Faz-se silêncio, fica muda.
Vive o absurdo, desnuda-se.
Traça novos horizontes,
Arrebenta as comportas,
Destrói as pontes
Entrega-se ao turbilhão,
Transmuda-se em pura emoção.
Mulher rio caudaloso
Sem controle, sem peias
Sangue latejando nas veias
Olhar ansioso.
Sente medo, sente frio,
Constrói novo espaço
Quase blindado a aço
Transcende seu cio,
Controla a força do delírio.
É Rio manso, cauteloso.
Mulher tempestade,
Raio, trovão, tempo nebuloso
Governada por forte paixão.
Mulher rio corredeira,
Rompe as margens
Transborda, alaga
Numa fúria desbragada.
Perde os limites na voragem
Leva consigo arvores, galhos,
E todos os atrapalhos.
Como brincadeira,
Vira lagoa,
Com água serena e boa.
Mulher que se faz pássaro
Remigra, voa
Ao seu novo destino...
Aquele de ser menina.
Descobre uma nova sina
Faz-se barco no meio do nada
Sem remo, sem rota.
Mulher à deriva...
No mar da vida Perdida...