sábado, 28 de julho de 2007

A Descoberta do Mundo

"Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa.
Ela não é fácil. Não émaleável..
E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento,
a suatendência é a de não ter sutilezas e
de reagir às vezes com um verdadeiro pontapé
contra os que temerariamente ousam transformá-la
numa linguagem desentimento e de alerteza.
E de amor.
A língua portuguesa é um verdadeiro desafio
para quem escreve. Sobretudo para quem
escreve tirando das coisas e das pessoas
a primeira capa de superficialismo.
Às vezes ela reage diante de um pensamento mais complicado.
Às vezes se assusta
com o imprevisível de uma frase.
Eu gosto de manejá-la – como gostava de estar
montada num cavalo e guiá-lo pelas rédeas,
às vezes lentamente, às vezes a galope.
Eu queria que a língua portuguesa chegasse
ao máximo nas minhas mãos.
E estedesejo todos os que escrevem têm..
Um Camões e outros iguais não bastaram para
nos dar para sempre uma herança da língua já feita.
Todos nós que escrevemos
estamos fazendo do túmulo do pensamento
alguma coisa que lhe dê vida.
Essas dificuldades, nós as temos.
Mas não falei do encantamento de lidar
com umalíngua que não foi aprofundada.
O que recebi de herança não me chega.
Se eu fosse muda, e também não pudesse escrever,
e me perguntassem a que língua
eu queria pertencer, eu diria: inglês,
que é preciso e belo. Mas como não nasci
muda e pude escrever,
tornou-se absolutamente claro para mim que eu queria mesmo
era escrever em português.
Eu até queria não ter aprendido outras línguas:
sópara que a minha abordagem
do português fosse virgem e límpida.