segunda-feira, 30 de julho de 2007

O VELHO HOMEM DE CABELO ACINZENTADO

Sabedoria, cicatrizes e cabelo acinzentado...
Apenas isto.
Sentado numa cadeira numa sala vazia.
Tranqüilo. Sozinho.
Os anos passando diante dos olhos.
Quando eu era jovem era bem sucedido.
Tive quatro irmãos e cinco irmãs.
Tive amigos e família. Trabalhei muito.
Arei aquele campo com nosso cavalo.
Posso lembrar-me de tudo bem claramente a maior parte do tempo.
Outras vezes... ainda mais claramente. Levantava-me antes do sol brilhar e trabalhava até depois de escurecer.
Lembro-me da guerra que levou minha saúde... e mente.
Lembro-me dos dias de choro.
Lembro-me de meus amigos agonizando em meus braços.
Assisti à notícia. Fiz a notícia.
Gostaria de poder mudar a notícia.
Minhas crianças, e suas crianças, e suas crianças, têm vindo me ver ultimamente.
Nunca me deram muita atenção.
Sei o que significa.
Não quer dizer que me amam.
Significa que estou morrendo.
Fizeram uma festa para mim ontem.
Entrei e todo o mundo gritou e então voltaram a conversar um com o outro.
Entrei. Só. Aqui estou. Num asilo.
Há flores. Mas não têm cheiro.
Sentado numa cadeira numa sala vazia.
Tranqüilo. Sozinho.
Os anos passando diante dos olhos.
Lembra-se de sua esposa de há muito tempo.
Morreu cedo e ele nunca amou outra.
Deve ir? Deve ficar? Um pálido pensamento.
Até que sons de recordação enchem o ar à sua volta.
O que é isso? É... é.
É a canção que minha encantadora esposa tocava no piano todos os dias.
Um velho homem de cabelo acinzentado se esforça e luta e finalmente se levanta.
Anda com suas bengalas até a outra sala. Ali um jovem toca a música.
Ninguém mais está ali.
O velho homem de cabelo acinzentado escuta a melodia e se lembra do cheiro de sua esposa e da cor de seus olhos.
A canção para. O coração continua a batida.
O velho homem de cabelo acinzentado volta.
E ali está: Tranqüilo. Sozinho.
O velho homem de cabelo acinzentado, esperando...
Os anos passando diante dos olhos. Sozinho...