A chácara
Um pai deu uma chácara de presente para seu filho. Era uma chácara muito linda, bem cuidada, toda plantada, terra muito fértil. A casa da chácara era muito bonita, com salas bem grandes, talheres de prata sobre a mesa e peças de cristais como enfeite. No fundo da propriedade, havia uma nascente de água muito límpida, que jorrava, formando um pequeno lago.
Foi grande a tristeza do pai, um dia, quando, ao passar pela estrada que dava acesso à chácara, só enxergou o telhado, pois o restante estava todo tomado pelo mato alto. O filho não mais cuidou de nada, alegando que não adiantava plantar, pois o ladrão vinha e roubava tudo.
Um amigo do pai resolveu ter uma conversa com o rapaz. Disse-lhe do desgosto do pai, ao ver que o filho havia abandonado tudo. Convidou o filho para reunir algumas pessoas amigas, para limpar a chácara, e ele aceitou. Como todos trabalhavam, começaram numa sexta-feira à tarde e prosseguiram até tarde da noite. Retornaram no sábado de manhã e, até à tarde, já haviam carpido tudo. Colocaram o mato em tambores e convidaram pessoas especializadas para queimar esse lixo.
No domingo de manhã, enquanto algumas pessoas plantavam sementes de frutas, as mulheres limpavam a casa que se encontrava muito suja e cheia de bichos. À tarde, já estava tudo limpinho, até os talheres de prata e os cristais. Arrumaram, então, a mesa grande da sala. Colocaram toalha de linho branca e muitas flores. A nascente ao fundo voltou a jorrar.
Foram, então, convidar o pai para uma ceia. Foi muito grande a sua alegria, quando, chegando à chácara, encontrou tudo bem cuidado.
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Todos podemos meditar sobre esta estória. E encontrar nela a profundidade que corresponde com a nossa vida. Seria a linda chácara a nossa alma – a alma que recebemos de presente do Pai Criador? O Pai nos dá uma alma pura e limpa, que logo é manchada com o desleixo, a preguiça, os pecados, as faltas cometidas contra o Seu amor e a Sua lei. E então, o mato alto toma conta da nossa casa espiritual. Apaga-se a luz em nós. Olhando para a Sua criatura, o Pai vê apenas o “telhado” - a cobertura da ruína em que ficou a nossa morada. Ele quer olhar para nós e não nos encontra, perdidos que estamos em meio ao matagal feio, esconderijo de bichos.
Não é fácil manter esta casa limpa e arrumada. Há que se cortar regularmente o mato à sua volta, ou seja, perseverar o tempo todo numa vida reta e honesta, conforme o Evangelho. Modéstia, humildade, caridade, fé. É trabalho diário, do qual muitos se cansam logo. “Não adianta, vem o ladrão e rouba tudo”. Porque é preciso vigilância constante, atenta, eterna. Haverá sempre um “ladrão” tentando roubar o tesouro de uma alma limpa.
Mas, eis que merecemos uma chance, remidos que fomos pelo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. E seremos salvos, voltaremos a possuir a limpeza e a beleza, se crermos no Seu sacrifício. Haverá sempre um convite, um chamado, para limpar a sujeira da casa espiritual. Se abrirmos o coração para Deus, começará em nós um lindo trabalho de purificação, de limpeza e de arrumação total.
Na sexta-feira santa, o Senhor se imolou por nós. À tarde. Pois é à tarde que, na estória, a faxina da chácara tem início. A vida brota novamente, no madeiro santo da Cruz. No sábado da longa espera, o trabalho continua em nós, limpeza profunda, queima do lixo que havia impregnado nossa alma imortal. A ressurreição se dá no domingo de Páscoa. Plantio de novas sementes, início de vida nova, mesa posta, toalha branca e flores Tudo pronto para a ceia com o Pai.
O Rio de Água Viva volta a correr no fundo de nossa alma. Limpeza e arrumação da nossa “chácara” interior. Renovação, volta ao Pai, reconhecimento da pátria celestial, confiança, amor, salvação eterna.
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