terça-feira, 18 de setembro de 2007

ÓPIO RETICENTE

A janela abre a marca da solidão que me acompanha

e não há mistérios nem dragões guerreando nos luares,

nem mais infância remendando belos sonhos nos teares,

restando somente o bronze da fuligem que me banha.







Aberta à neblina entorpecida, este ópio reticente

vai banhando a lembrança duma doutrina sem espera,

profetizando amanhãs igual ao ontem se ora revela

a estátua empoeirada rindo à ceguidade que me vence.







E na vidraça reflete um sol vermelhecendo a lanha,

escarnecendo do tear infante enquanto a agulha insulta

a costura da imagem no espelho retalhado em culpa,

desfilando para a janela a derrota que me ganha.







A janela fecha o trecho e a sina desfiada emaranha

descortinando a vida em farrapos chorando no varal,

a desbotada gota escoando o que restou do festival

e da fantasia destruída na lembrança que me arranha.