sábado, 15 de setembro de 2007

MUSA DA RUA

Seminua
barrigão à mostra,
umbigo saliente
sob a blusa
tão apertada que amassa o seio...

Bonitas pernas,
soltas, andarilhas,
apesar das cicatrizes...
feridas de que?

Dos cacos de vidro
que cobrem as ruas,
de pedras, porretes,
das surras dos pais,
ou do companheiro,
menino também
mas que sabe bater
e que diz que aprendeu
só pra se defender?

Menina franzina
com outra menina,
coberta de panos,
que leva nos braços
e outra no bucho...
vai logo chegar.
E ainda sorri
ao pedir o “trocado”
pra ela é pecado
até mesmo chorar.

Menina, menina...
que fazes na rua?

Devias estar
numa cama de nuvens
coberta de estrelas,
sonhando com fadas,
princesas, dragões...
Teu corpo, menina,
não é para os bancos
das praças, calçadas,
faróis, estações...

Devias sonhar,
até mesmo acordada,
os sonhos amenos
de toda menina,
mas estes... ah, não!
Não sonhos que brotam
(talvez pesadelos),
do saco com droga
que apertas na mão.

Tu és Cinderela,
porém tu não sabes.
Apenas percebes
os vultos à volta,
insultos, revolta,
casebres, favela.
Teu maior desejo
não é ser princesa,
mas ter uma vida
feliz, de novela.

Que fazes, menina,
de noite, na rua?
Teus olhos deviam
olhar para os lados
e ver o teu quarto
pintado de rosa,
cortinas azuis...
Porém tua vida
só tem duas cores:
o preto da pele,
que assina tua sina
e o branco dos homens
que exploram, menina
tua vida, teu corpo,
tua mente, trabalho.

Colorido?

Apenas a blusa
amarela que usas...
o rosa encardido
do teu par de meias...

Ah!
E o sangue
vermelho
que corre em tuas veias…