POSSO
Posso cantar mais que uma inexistência
se tantos nervos se abalam ígneos,
e ainda os gestos os mais ímpios
declaram a derrocada de uma essência.
Posso alar mais sonhos numa espiral
tamanha, tantos quantos quantos povos
vagueiam lúcidos horizontes novos
em polar confluência do bem e do mal.
Posso depor verdades estas que não creio
calculadas num preciso desespero estudado,
deflagrando preces, mascarando o peculato,
exortando a glória, sem mínimo receio.
Posso então criar de todas quantas vidas,
também a que embriague a dose a mais
alçando das palavras aquela que desfaz
tanto que restaure conceito e despedida.
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