segunda-feira, 17 de setembro de 2007

O VIAJANTE

Um homem, tendo que fazer uma longa viagem, se preparou como melhor lhe convinha.

Teria um longo caminho pela frente, e neste tempo, enfrentaria muito sol, muita chuva, muito frio, enfim, inúmeros obstáculos. Achava que nada poderia detê-lo.

Para a sua caminhada, tomou calçados, roupas, chapéu, enfim, tudo o que achava necessário.

E tudo era novo.

Pensou em seu destino e em tudo de valor que achava possuir.

Abriu sua mochila, e nela colocou tudo, calçado, roupa, chapéu, achando que se não os usasse no seu dia a dia, ao final, teria tudo ao seu dispor, quando quisesse. E novo, por isso guardou tudo.

Colocou tudo às costas, e partiu.

Ao longo de sua vida, após varias trilhas, viu-se cansado e não pode mais continuar. Estava exausto.

O peso as suas costas, com o seu "tesouro", já lhe era insuportável.

Seus pés, rachados e sangrando, sua roupa surrada, seu corpo machucado e frágil, sua cabeça ferida e seu pensamento, sem direção.

Olhou para os seus pés e para seu calçado novo, (guardado). O sapato continuava novo, e seus pés, acabados.

Tomou a sua roupa nova (guardada) e tocou o seu corpo velho e dolorido.
Levantou o seu chapéu, novo, (guardado) e tentou colocá-lo em sua cabeça inchada.

Faltava muito para chegar, e tudo que possuía, novo, (guardado) tal como preservou, de nada lhe servia agora.

Pensou em abandonar tudo.


Em silêncio, e pela primeira vez, concluiu que se tivesse utilizado o seu calçado, ele estaria velho, mas seus pés, estariam protegidos, doloridos, apenas. Se tivesse se vestido, sua roupa estaria rota, mas, seu corpo não estaria tão machucado. Se tivesse usado o seu chapéu, ele estaria com sua abas caídas, mas sua cabeça não estaria por estourar de dor.

Refletiu, e reconheceu que ali estavam os seus verdadeiros amigos. Para servi-lo, a todo instante, porém tentando preservá-los, guardou-os e não permitiu que eles participassem de sua vida.

Lembre-se.

A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.
Charles Chaplin