sexta-feira, 14 de setembro de 2007

O Segredo do Mendigo

Estava triste, desmotivado. Sua mulher havia deixado de am�-lo. Levantou da cama e vestiu-se naquela manh� de domingo. Sem nada para fazer, saiu de casa e andou sem rumo.

At� aquele dia, nunca tinha reparado como era penoso viver sem amor. Depois de andar durante horas, sentou-se � sombra de uma �rvore frondosa no banco de uma pra�a, de cabe�a baixa.

Ao seu lado, sentou-se um homem que, pelo seu aspecto, pareceu-lhe um mendigo. Quase se levantou para seguir o seu caminho, mas o sorriso do homem o reteve.

Aos poucos, se estabeleceu um di�logo e uma animada conversa que se estendeu por horas. Finalmente, o marido se levantou do banco, deixando dinheiro na m�o do mendigo.

Sua postura j� estava diferente. Agora, com passo en�rgico, voltou para casa, tomou banho, fez a barba e se vestiu com todo cuidado. Saiu sem dar explica��es e sua mulher, que j� n�o o amava mais, se mostrou levemente curiosa com a sua nova atitude.
Voltou � noite, bem tarde.

No dia seguinte, cumprimentou gentilmente sua mulher e foi trabalhar. Na volta, vestiu um short, cal�ou t�nis e fez uma longa caminhada noturna. Dormiu com excelente disposi��o.

O dia seguinte foi igual, talvez melhor.
Sua mulher, que n�o o amava, e seus filhos se surpreenderam. Parecia ter perdido a tristeza. Ganhara uma for�a e uma eleg�ncia que a fam�lia nunca antes tinha notado.

Continuou a ser gentil com a mulher mas nunca mais lhe pediu desculpas ou explica��es, nem exigiu que fizesse amor com ele. Passaram-se semanas. A atitude do marido continuava firme e a disposi��o otimista instalou-se de vez.

A mulher sentia-se cada vez mais intrigada com a mudan�a miraculosa do marido e teve mais simpatia por suas novas atitudes, s�bias e moderadas. Embora ela persistisse em n�o am�-lo, ele melhorava seu desempenho como pessoa e como pai. Era evidente que tinha se transformado num homem s�bio.

Quanto a mim, sou um sujeito profundamente curioso, talvez por ser escritor e fui � mesma pra�a onde estivera o marido a fim de procurar o mendigo. Pude reconhec�-lo imediatamente.

Sem vacilar, sentei-me a seu ladoa apresentei-me e perguntei o que ele tinha dito para o marido sem amor. Sorrindo, o mendigo me respondeu:
- Ah, lembro... N�o dei grande conselho. Disse-lhe apenas que, com minha experi�ncia de mendigo, aprendi que nunca se deve pedir dinheiro e, pelas mesmas raz�es, jamais se deve suplicar amor. Essas s�o duas coisas que sempre nos negam quando as pedimos�.

E sorrindo, acrescentou:
�O dinheiro, a gente ganha... o amor se conquista�