sábado, 22 de setembro de 2007

HISTÓRIA PARA UM CERTO PIÁ

Queria te contar sobre os poetas
sobre estes seres quase mitológicos
que insistem em viver,
malgrado o mundo...
Queria te contar sobre os meus versos
sobre essas rimas tão desencontradas
e as minhas emoções descontroladas
que sobrevivem a tempos adversos...

Queria te contar sobre os meus sonhos
sobre os castelos feitos de areia
sobre os fiapos, laços, sobre a teia
em que se enredam
os versos que componho.

Queria te contar sobre os poetas...
mas sei que tu não podes compreender
porque nem mesmo os grandes
compreendem.
Talvez seja mais fácil compreenderes
estórias de peões ou de duendes,
de assombrações que vagam
nas campanas...

Por isso apenas peço que me ouças:
nas águas do Guaíba, em tardes quentes,
no vento das montanhas, na neblina,
nas flores que enfeitam as vertentes,
e no chiado do mate amargo e quente...
lá no fundo da cuia do teu pai...
Que tu me ouças, em dias embaçados,
em noites de lembranças do passado,
ou nos tornados vindos do Uruguai...

Que tu me ouças...
e um dia reconheças,
nas simples letras que te deixo aos pés,
o quanto eu te amei,
- sem conhecer-te -
só por seres filho de quem és...

Que tu compreendas, afinal,
o que é ser poeta:
é ser como o carvalho, altaneiro,
que estende os galhos perto do ribeiro,
e dá ao caminhante sombra e paz...

Ser poeta, piá, é ser valente...
e sob o vento, não vergar,

JAMAIS!