segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Flor do Asfalto

Flor do asfalto, encantada flor de seda,

sugestão de um crepúsculo de outono,

de uma folha que cai, tonta de sono,

riscando a solidão de uma alameda...



Trazes nos olhos a melancolia

das longas perspectivas paralelas,

das avenidas outonais, daquelas

ruas cheias de folhas amarelas

sob um silêncio de tapeçaria...



Em tua voz nervosa tumultua

essa voz de folhagens desbotadas,

quando choram ao longo das calçadas,

simétricas, iguais e abandonadas,

as árvores tristíssimas da rua!



Flor da cidade, em teu perfume existe

Qualquer coisa que lembra folhas mortas,

sombras de pôr de sol, árvores tortas,

pela rua calada em que recortas

tua silhueta extravagante e triste...



Flor de volúpia, flor de mocidade,

teu vulto, penetrante como um gume,

passa e, passando, como que resume

no olhar, na voz, no gesto e no perfume,

a vida singular desta cidade!