sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Esquecer Eu Quisera

Esquecer eu quisera

Ah quem me dera
Minha mente alucinada vibra gira

Entorta minha cabeça

Mas sempre diz sim às lembranças

Que não esqueço!


Esquecer eu quisera
Da responsabilidade da vida

Que me engole aos pedaços
Sem mastigar minha carne

Sem sentir meu gosto!


Esquecer eu quisera
Das décadas todas da minha vida
Onde presenciei uma guerra traiçoeira
Através de filmes jornais

E revistas sem censura!



Bombas explodindo sem aviso destroçando

O que encontravam à sua frente

Bombas despencando

Sobre cabeças adormecidas
Antes mesmo do alvorecer de cada dia!



Esquecer eu quisera
E não mais lembrar do medo que eu sentia
Sem saber se era verdade ou mentira

O que eu via e ouvia!



O pavor tomava conta do meu corpo de criança

Encolhido em minha cama onde meus olhos choravam
Não havia entreatos
Os soldados jamais voltavam ao levantar do pano

Para o início do segundo ato!



Ficavam ali tombados expostos às moscas

Vermes e abutres esfaimados
Onde os deuses ensandecidos e toda sua maldade?


Nunca soube que em sua sanha

Houvessem deuses compadecidos

Ao assistir o sofrimento do povo

Compaixão não existia por qualquer alma

Por alma nenhuma nem por nada!


Esquecer eu quisera

E não lembrar mais dos fogos da minha infância

Fogos daninhos que me assustavam

Faziam-me tremer de pavor

Porque a queima de fogos apresentados

Nunca passaram de bombas canhões

Rajadas de metralhadoras aviões explodindo
Pára-quedas no ar incendiando!



Esquecer eu quisera

E poder apagar da lembrança a visão de soldados

Desacompanhados de suas damas
Dançando uma valsa desconexa nos campos de batalha

Rodopiando até à morte!


Esquecer eu quisera...
De donzelas graciosas que existiram sim

Mesmo que por pouco tempo
Vítimas inocentes violentadas e mortas

Por seres dementes e diabólicos!


Esquecer eu quisera

Dos rapazes que nasceram sim
Mas os governos em seus extremos

Os tornaram adultos de pouca idade!


Seguiam aos campos de batalha

Com passagens pagas

Partiam com pouca bagagem

Sem o bilhete de volta!

Esquecer eu quisera

Que eu não andava por ruas e ruas

Eu não andava por rua nenhuma
Pelo pavor que os bombardeios me causavam

E o barulho imaginário das bombas

Explodindo em meu quintal avermelhado

Refletindo a cor das chamas!



Eu não escrevia frases nem frases

Eu sabia escrever mas não escrevia nada

Apenas orava e orava
Para que Deus fizesse calar o ruído das armas

Que martelavam meu cérebro e ouvidos

Pondo-me em estado de alerta

Ao imaginar bandeiras esgarçadas

Hastes cravadas ao solo pelas mãos de soldados

Ao se apossarem de novas terras ensangüentadas!



Naquela época o relógio do tempo era calmo

Não gritava não dava ordens nada demarcava

Para ele pouco importava o fim ou o começo de nada!


Ah se eu entendesse de profecias quando criança

E soubesse que o instante é fixo não duradouro

Talvez eu não tivesse sofrido tanto!


Ah quisera ainda lembrar das santas que cultivavam rosas
E de suas imagens cristalizadas

Ocultas em algum canto de minha memória!


Onde o mundo o povo sem vida

Enterrando seus mortos

Como seria bom serem eternos os pensamentos

Que nos fizessem reviver somente momentos mágicos!



Esquecer eu quisera...

Mas como

Se ainda me lembro o quanto doeu e dói

O terror do holocausto

Da guerra maldita que me volta à memória

Ou em pesadelos reaviva meus medos

Fazendo rolar novamente

Cada lágrima chorada dos meus olhos!