quinta-feira, 23 de agosto de 2007

O problema da morte

O homem consciente das realidades da vida considera a desencarnação como irrecusável convite à antecipada preparação da viagem que, inevitavelmente, realizará.
Cuidadosas estatísticas esclarecem que, em cada minuto, na Terra, desencarnam 75 pessoas, num total aproximado de 40 milhões anualmente...
A barreira que oculta o Mundo Espiritual é muito frágil e se rompe incessantemente, soando para cada consciência o instante azado de despertar além-do-corpo.
No entanto, todos quantos seguem envoltos na névoa das ilusões, fugindo deliberadamente ao pensamento em torno da morte, são surpreendidos enquanto nos engodos da fantasia, atravessando o portal do túmulo como sonâmbulos de difícil despertamento, gastando tempo valioso em hibernação, visitados mentalmente pelos fantasmas que criaram para tormento próprio.
Outros, avisados sobre o Além, desperdiçam excelentes ocasiões de crescimento íntimo, agasalhando a dúvida e a insegurança em que se comprazem, dementados e inquietos...
... E acordam, mais tarde, embaraçados aos fios do pavor, em indescritível estado de perturbação.
***
Não te acomodes indiferente à vida, nos rumos por onde gravitam as tuas ambições, levando-te inexoravelmente.
Nunca é tarde para renovar as diretrizes morais que a ti mesmo te impuseste.
Nem é tão cedo, como pensas, para permaneceres morno diante de questão fundamental, que de todos merece o exame e estudo.
Fatores diversos de ontem e de hoje possivelmente perturbaram tua paz, destruíram teus anseios, fizeram-te azedo.
No entanto há sol, brilhando sem cessar.
Quem se deixa abater já perdeu parte do combate decisivo da vida.
Quem se rende à dor ou à queda está impossibilitado de receber auxílio.
Quem se enche de pessimismo, não permite ocasião para que as gotas da alegria real lhe minorem a mágoa.
As fantasias da infância, as excentricidades da juventude em forma de ambições desmedidas não devem demorar-se pelos dias da maturidade, quando o homem se deve envolver nos tecidos sutis da sensatez.
Nem os sinais dos insucessos e das dificuldades devem cobrir o campo das aspirações elevadas, impedindo a entrada do triunfo.
Não temas, pois, desencarnar; não te seja indiferente partir...
Sacode o pó do marasmo que te intoxica, aspirar o ar da esperança, nutre o pensamento com o otimismo, e acordarás...
O eixo direcional da vida, até no instante final, pode ser mudado, dirigido para o ideal imortalista, latente em todas as mentes, vibrante em todos os corações.
A existência física é experiência evolutiva. Depois dela, a vida real.
Anota as dificuldades e enganos de hoje, faze uma lista e começa, ainda agora, cerrada campanha contra eles, vencendo-os lenta e seguramente.
Não te auto-sugestiones de que não melhorarás, antes de tentares ou mesmo depois de começares, repetindo a experiência salutar até o cansaço ou mesmo além do esgotamento.
Às vezes, a tentativa que não se fez seria exatamente a da vitória...
Começa agora, cria ânimo e prossegue valoroso.
Ignoras quando soará o momento da desencarnação.
***
Desejando para seu filho, João Marcos, o apostolado cristão, Maria, de Jerusalém, entregou-o a Paulo, quando muito jovem ainda, para que ele o acompanhasse nas jornadas de pregação em que se empenhava, nos dias heróicos... A princípio, ao moço faltavam valor, coragem e desprendimento para a abnegação e o martirológio. Sem desistir, no entanto, armando-se da fé e ardor, pode atender posteriormente ao apelo de Simão Pedro, escrevendo o Evangelho, segundo o que ouviu do próprio Pedro, de Joana de Cusa, da Mãe Santíssima e outras testemunhas, a fim de que o pescador da Galiléia pudesse apresentá-lo aos romanos recém-conversos. E renovando-se sem cessar, deixou o magistral legado das suas anotações, penetrando, na vida livre, amado pela posteridade, reconhecida ao seu labor e renúncias, pelos milênios a fora.