domingo, 12 de agosto de 2007

Complementaridade

Eu sorvo de ti o que falta em mim,
Ofereço-te de mim o que te aprouver,
E sinto que é tão bom viver assim,
Reflito em ti meu enfoque de mulher...

Umas árvores alteiam-se nos morros,
Enquanto outras se dispersam pelo chão;
E todo esse arvoredo se esvai em jorros
De verde, em tons de plena combinação.

Eu vejo em ti arroubos elegantes,
Vivo contraste com a minha timidez...
Já quis ser "tu" em diversos instantes;
Não sei se quiseste ser "eu" alguma vez...

Uns preferem cavalos a mansos cachorros,
Entendem o cavalgar como o driblar da solidão...
E os que acalentam cães sobre seus forros
Sentem prazer único que só tantos pelos trarão...

Mas... ao ser como tu, eu não era"eu"...
E "tu", em dobro, não poderia haver...
Fico o que sou, burilando cada passo meu,
Desde a minha aurora até depois do entardecer...

No firmamento, juntos, lua e luar
Trazem brilho à penumbra dos mortais;
Estrelas... E o rei-sol a energizar
Aqui e ali, tu e eu... E tanto mais...

Esse é o viver, pleno e solidário,
Onde o que não sabemos, o que nos falta
Pode estar perto, sem tempo nem horário,
Em frente de nós, sem ares de ribalta...

A terra se encharca da chuva que se lança,
Rebrotando a natureza a se rejuvenescer,
Levando novos raios de esperança
Nas nuvens que preparam um novo chover...

Se te atiras num viver audacioso,
Mas buscas afago em minha fala mansa...
... Eu admiro o teu jeito fogoso,
Que convive tão bem com o meu lado criança...

E os doces rios que invadem, sedentos,
O mar em beijos salgados, entrega sem fim,
São como o vigor dos nossos pensamentos:
Os meus querem pulsar em ti... Os teus já pulsam em mim...

Somos partículas do universo,
Que se enriquecem ao compor com tudo;
Toma o que penso, ainda que a ti adverso,
Retempera-o e quebra o meu silêncio mudo...