O reverso da liberdade
"Controladores" são indivíduos que possuem um estilo de comportamento que constrange, domina e impõe. Por meio de uma simulação consciente, ou não, tentam forçar os eventos da vida a acontecer quando e como querem. O maior desatino dos "controladores" é que para dominar precisam, antes de tudo, viver distanciados de seus próprios sentimentos, que, acreditam, poderiam deixá-los vulneráveis diante dos outros. Não se arriscam a mostrar como se sentem realmente. Em outras palavras, por medo de serem usados, maltratados ou desmascarados,
escondem seus sentimentos mais profundos para assegurarem-se de que não existe possibilidade de qualquer pessoa ter poder sobre eles. Têm uma enorme necessidade de ordenar e passam anos a fio dizendo a si mesmos que a maneira certa de agir é ter as rédeas de tudo em suas mãos. Os "controladores" fazem o trabalho em segredo, usando técnicas de comando
indiretas, passivas. Agem de maneira tão sutil, dócil e educada, que não são identificados como tais. Podem ter consciência ou não do hábito de controlar, mas uma coisa é certa: esse comportamento faz-lhes muito mal,
pelo desgaste energético em que vivem — impacientes, incapazes de relaxar e ficar sem fazer nada. Procuram exaltar sua importância pessoal,
tomando nomes e sobrenomes imponentes para se impor perante os mais
desavisados e crédulos. Alguns se utilizam de argumentos capciosos e aparentemente lógicos, que tornam suas idéias difíceis de ser questionadas. Muitos controlam, expondo fraqueza e dependência; lamentam e choram,
afirmando ser indefesos e vítimas. Às vezes, a "máscara da fragilidade" é um recurso utilizado pelos mais poderosos "controladores". Usam qualquer tática, desde que funcione; mas, independente dos planos ou meios, os objetivos são os mesmos: obrigar outrem a fazer o que eles querem que seja feito. São mais doentes, ou mais ignorantes de si mesmos, do que propriamente maus. Quase sempre "exigem uma crença cega e não apelam à razão, porque sabem que a razão os desmascararia". Os "controladores",
além de guardarem uma convicção inabalável de que o comando de tudo e de todos é essencial, ainda são motivados por recompensas ou estímulos inconscientes que os ajudam a perpetuar o jogo da manipulação.
Aqui estão algumas das atitudes mentais que integram o sistema de
sobrevivência psicológica dos indivíduos imponentes:
— satisfazem suas necessidades de poder ou domínio por sentirem enorme vazio interior;
— confirmam uma auto-imagem deficiente que idealizaram como maravilhosa;
— fazem com que se sintam respeitados, para se protegerem de uma possível humilhação;
— fortalecem seu desejo de impressionar terceiros, pois se consideram socialmente inadequados;
— têm medo de ser rejeitados, ridicularizados e magoados.
Encontramos os "controladores" não somente no mundo espiritual,
mas também usando a vestimenta carnal de pais, filhos, cônjuges, namorados, parentes e amigos. São tipos autoritários, considerados "egomaníacos com baixa auto-estima", que empregam o controle para suprir uma vida interior deficitária. Inseguros, receiam ser manipulados, obrigados a fazer o que não desejam ou ficar sobrecarregados com enormes
responsabilidades. Convictos de que a melhor defesa é um bom ataque, tentam impor-se aos outros antes que estes os controlem. Reagem ao medo e à insegurança, recorrendo ao domínio sobre o próximo e sobre as circunstâncias. Isso lhes parece amenizar ou resolver seus conflitos íntimos. "Os bons Espíritos jamais ordenam: não se impõem, aconselham, e,
se não são escutados, se retiram."
Nossa mais devastadora ilusão é pensar que podemos controlar a vida dos outros.
Imposição é o oposto da liberdade e extermina tanto a autonomia do que domina como a do dominado.
Apenas escolhendo o autocontrole é que atingiremos a verdadeira libertação.
Não conseguiremos evoluir emocional, intelectual e espiritualmente se
estivermos desgastando nossas energias para comandar a vida dos outros.
"...e onde se acha o Espírito do Senhor aí está a liberdade."
Os bons Espíritos são livres porque dão liberdade a todos que os cercam. Reconheceram a importância de se desvencilharem das afeições possessivas, pois respeitam integralmente a condição natural de todos — seres livres, filhos de Deus.
A Espiritualidade Superior nos ensina que somos convocados a compartilhar com os outros a afetividade e a mútua proteção, mas isso se torna um desequilíbrio quando exigimos apropriação do ser amado. Que deveríamos nos sentir recompensados, e não intimidados, quando constatamos que os que amamos têm interesses independentes,
confiança em si mesmos e auto-suficiência.
Quando delegamos o controle de nós mesmos a uma outra criatura,
seja ela quem for, talvez estejamos renunciando ao nosso mais importante direito inato: a liberdade. Ela pressupõe senso de dignidade, escolha e auto-respeito.
Sem senso de valorização próprio, nos julgaremos uma nulidade e sentiremos um grande vazio na alma, isto é, uma sensação de "não ser".
A propósito, recordemos Victor Marie Hugo, o mais ilustre poeta e escritor francês do século XIX, quando escreveu:
"O pior uso que se pode fazer da liberdade é abdicar dela".
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