Clausura

A porta se fechou aos poucos,
sem ranger, sem gemidos, não precisava de lacres
para aprisionar uma alma triste,
apenas isolava mundos,
separava sonhos, abafava suspiros,
apenas imolava uma vida ...
Por trás dela, qual cordeiro escolhido
lá estava eu para ser imolada,
sacrificada, deixar de viver ...
Por que ?
Porque entre as minhas mãos
vi com meus olhos escorregarem sonhos
ansiados, desejados, esperados
por uma vida inteira ...
E do meu corpo, da minha pele,
já não mais espargiam
aquele bendito perfume que atraia o amor ...
E eu o queria tanto !
Por que fugira de mim
e me deixara jogada, sem chances de te-lo
qual animal no cio gemendo por seu macho ?
Por isso me fechei para não sofrer
não ver minhas carnes doídas,
minhas noites de insônia sem conseguir dormir ,
meu desamor em me querer,
minhas fugas do espelho,
meu medo de estar só, que agora está preso
e já não me fere mais ...