quinta-feira, 21 de junho de 2007

A lucidez perigosa

Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
Assim como um cálculo matemático
perfeito do qual, no entanto, não se precise.


Estou por assim dizer vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.


Além do que: que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano –
já me aconteceu antes.


Pois sei que – em termos de nossa diária
e permanente acomodação resignada à irrealidade –
essa clareza de realidade é um risco.


Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis.
Eu consisto, eu consisto, amém.