Amante da solidão
Passou o enterro de um homem comum,
acenderam uma última vela branca,
todos as luzes foram desligadas,
todo o céu ignorou o tal sem amor.
Era ele inseparável amigo da noite,
caminhava ruas de solidão infindável,
escondia do sol entre uma e outra lua,
tinha necessidade de sonhos noturnos.
Voltava todos as noites a porta de uma certa casa,
olhava fixo uma janela azul,
nenhuma alma aparecia, nenhum olhar de volta,
seu sorriso era de desilusão, na boca o gosto de nada.
Ninguém afagou sua urna fria, nenhuma flor,
de longe poucos olhos acompanhavam,
não se sabe de onde apareceu uma mulher de negro,
na sua mão uma rosa azul, como daquela janela.
Ela pára a respiração por um instante e joga a flor,
olhou fixo o rosto frio no fundo daquela caixa de madeira,
baixou a cabeça, viram-se lágrimas caindo do seu rosto,
afastou lentamente e desapareceu como chegou.
Ninguém jamais soube o nome daquele homem,
era um amante, senhor e guardião da sua solidão,
nasceu à tarde e amou a noite até seu rápido fim,
com a lua quase prata partiu solitário como viveu.
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