quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Ser discípulo

Quando o grande místico sufi Hasan estava morrendo,

alguém lhe perguntou: Hasan, quem foi seu mestre?

Ele respondeu: Tive milhares deles.

Se apenas enumerasse seus nomes, levaria meses,

anos, e agora é tarde demais.

Mas certamente lhe contarei sobre três Mestres.



Um deles foi um ladrão.

Uma vez me perdi no deserto,

e quando cheguei a uma aldeia já era muito tarde,

tudo estava fechado.

Mas finalmente encontrei um homem,

que tentava fazer um buraco na parede de uma casa.

Perguntei-lhe onde poderia ficar, e ele respondeu:

A esta hora da noite será difícil,

mas pode ficar comigo se for capaz de ficar

com um ladrão!

E o homem era tão harmonioso - fiquei por um mês!

E toda noite ele dizia:

"Estou indo agora a meu trabalho. Vá descansar e rezar.

E quando ele voltava, eu lhe perguntava:

Conseguiu algo?, e ele respondia: Esta noite não.

Mas amanhã tentarei novamente, e se Deus quiser...

Ele nunca se desesperava, e estava sempre feliz.

"Quando eu meditava e meditava por anos a fio,

e nada me acontecia, muitas vezes havia momentos

em que ficava tão desesperado, tão sem esperanças,

que pensava em parar com toda aquela bobagem.

E de repente me lembrava do ladrão que toda

noite dizia: Se Deus quiser, amanhã vai acontecer.



E meu segundo mestre foi um cachorro.

Eu me dirigia a um rio, sedento,

e um cachorro apareceu, também com sede.

Olhou para o rio,

vendo lá outro cachorro - sua própria imagem -

e ficou com medo.

Ele latia e se afastava correndo,

mas sua sede era tamanha que acabava voltando.

Finalmente, apesar do medo,

simplesmente pulou na água, e a imagem desapareceu.

E eu sabia que aquela era uma mensagem

de Deus para mim:

devemos dar o salto, apesar de nossos receios.



E o terceiro Mestre foi uma pequena criança.

Cheguei numa cidade,

e uma criança estava carregando uma vela acesa.

Ela se dirigia à mesquita, para lá depositar a vela.

Apenas por brincadeira, perguntei ao menino :

Você mesmo acendeu a vela?

Ele respondeu: Sim, senhor.

E continuei:

Houve um momento em que a vela esteve apagada,

depois houve outro em que ela se acendeu.

Você pode me mostrar a fonte da qual a luz veio?

E o menino riu, assoprou a vela, e disse:

Agora você viu a luz se indo.

Para onde ela foi? Diga-me!

Meu ego e todo o meu conhecimento

ficaram despedaçados.

E naquele momento senti minha própria estupidez.

Desde então abandonei toda a minha erudição.



É verdade que não tive Mestre.

Mas isso não significa que não fui discípulo

- aceitei toda a existência como minha Mestra.

Meu discipulado foi um envolvimento maior que o seu.

Confiei nas nuvens, nas árvores...

na existência como tal.

Não tive Mestre porque tive milhares deles

- aprendi de todas as fontes possíveis.



Ser discípulo é uma necessidade absoluta no caminho.

O que significa ser discípulo?

Significa ser capaz de aprender,

estar disposto a aprender, ser vulnerável à existência.



Com um Mestre você começa aprendendo a aprender...

e muito lentamente você entra em sintonia

e percebe que, da mesma maneira,

pode entrar em sintonia com toda a existência.



O Mestre é uma piscina onde você

pode aprender a nadar.

E quando aprende, todos os oceanos são seus...