terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A Mais Bela Flor

O bosque estava quase deserto quando o homem
sentou-se para ler embaixo dos longos ramos de um velho carvalho.

Estava desiludido da vida, com boas razões
para chorar, pois o mundo estava tentando afundá-lo.

E como se já não tivesse razões suficientes
para arruinar o seu dia, um garoto chegou, ofegante, cansado de brincar.

Parou na sua frente, de cabeça baixa e disse,
cheio de alegria:

- Veja o que encontrei!

O homem olhou desanimado e percebeu que na
sua mão havia uma flor.

Que visão lamentável! Pensou consigo mesmo. A
flor tinha as pétalas caídas, folhas murchas, e certamente nenhum
perfume.

Querendo ver-se livre do garoto e de sua
flor, o homem desiludido fingiu pálido sorriso e se virou para o outro
lado.

Mas ao invés de recuar, o garoto sentou-se ao
seu lado, levou a flor ao nariz e declarou com estranha surpresa:

- O cheiro é ótimo, e é bonita também...

- Por isso a peguei. Tome! É sua.

A flor estava morta ou morrendo, nada de
cores vibrantes como laranja, amarelo ou vermelho, mas ele sabia que
tinha que pegá-la, ou o menino jamais sairia dali.

Então estendeu a mão para pegá-la e disse, um
tanto contrafeito:

- Era o que eu precisava.

Mas, ao invés de colocá-la na mão do homem,
ele a segurou no ar, sem qualquer razão.

E naquela hora o homem notou, pela primeira
vez, que o garoto era cego e que não podia ver o que tinha nas mãos.

A voz lhe sumiu na garganta por alguns instantes...

Lágrimas quentes rolaram do seu rosto
enquanto ele agradecia, emocionado, por receber a melhor flor daquele
jardim.

O garoto saiu saltitando, feliz, cheirando
outra flor que tinha na mão, e sumiu no amplo jardim, em meio ao
arvoredo.

Certamente iria consolar outros corações, que
embora tenham a visão física, estão cegos para os verdadeiros valores
da vida.

Agora o homem já não se sentia mais
desanimado e os pensamentos lhe passavam na mente com serenidade.
Perguntava-se a si mesmo como é que aquele garoto cego poderia ter
percebido sua tristeza a ponto de aproximar-se com uma flor para lhe
oferecer.

Concluiu que talvez a sua auto-piedade o
tivesse impedido de ver a natureza que cantava ao seu redor, dando
notícias de esperança e paz, alegria e perfume...

E como as Leis da Vida são misericordiosas,
permitiram que um garoto privado da visão física o despertasse daquele
estado depressivo.

E o homem, finalmente, conseguira ver,
através dos olhos de uma criança cega, que o problema não era o mundo,
mas ele mesmo.

E ainda mergulhado em profundas reflexões,
levou aquela feia flor ao nariz e sentiu a fragrância de uma rosa...

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Verdadeiramente cego é todo aquele que não
quer ver a realidade que o cerca.

Tantas vezes, pessoas que não percebem o
mundo com os olhos físicos, penetram as maravilhas que os rodeiam e se
extasiam com tanta beleza.

Talvez tenha sido por essa razão que um
pensador afirmou que "o essencial é invisível aos olhos."