quarta-feira, 4 de março de 2009

O Perdão

Quando é que se reconhece a grandeza do ser humano?

Não é quando ele dá esmola para o menino de rua, quando pára o

carro em frente à faixa de pedestre ou quando oferece carona

num dia de chuva.

Essas atitudes reforçam para nós mesmos a idéia de que, sim, somos gente fina.
Mas é fácil ser gente fina reproduzindo atitudes padrão.

Difícil é ser grande diante do assombro, diante do inesperado, diante do desconhecido.

Acho que entre todos os grandes gestos, o perdão é o maior deles.

Em primeiro lugar, o perdão é fruto do erro de alguém, e quanto maior este erro,

maior a grandeza de quem, atingido,

se dispõe a passar por cima da própria dor e levar a vida adiante.

E o perdão torna-se ainda mais digno porque ninguém se prepara para perdoar.

É mentira quando alguém diz: eu perdôo tudo.

Este tudo não pode ser mensurado previamente.

Não se sabe de antemão o tamanho do golpe.

Não se pode prever nossa reação diante do difícil reconhecimento de que alguém falhou

conosco.

É fácil desculpar um atraso, um esbarrão, um esquecimento,

mas o tamanho do perdão é proporcional ao tamanho do erro:

estes são exemplos de perdões fáceis, corriqueiros.

Difícil é perdoar o trágico.

O Papa João Paulo II perdoou o turco que lhe deu um tiro anos atrás.

O Papa é o representante maior de Deus na terra, não se espera dele outra atitude,

ainda que tenha surpreendido muita gente.

Mais surpresos ficamos com aqueles que não vestem nenhum tipo de batina e também

perdoam os que tiraram a vida de seus irmãos, filhos, pais.

Eles não aceitam, mas compreendem.

Compreendem a miséria humana, compreendem as atitudes impensadas.

São considerados perdedores por causa disso.

E nós, ganhamos o quê não compreendendo? -

O perdão é prova de entendimento absoluto, principalmente de si mesmo.

Não perdoar é isolar o outro, perdoar é entrar no jogo com ele,

participar do problema, e não julgá-lo como se

estivéssemos imunes à mesma fraqueza.

O perdão é o gesto mais elevado que há.

Tão elevado que poucos chegam lá.