sábado, 22 de dezembro de 2007

REINO DOS CÉUS

Pesquisaste, arrebatado, páginas comoventes e nobres que encerravam a
linguagem do Reino dos Céus.
Ouviste expositores fluentes, informando as excelências do Reino dos
Céus.
Acompanhaste missionários que erigiram templos onde se pudessem guardar
as mensagens do Reino dos Céus.

Meditas, extasiados, sobre as paisagens do Reino dos Céus.
E sonhas, fascinado, ante a esperança de entrares no Reino dos Céus.
Todavia estás na Terra...
Lama e dor em toda parte.
Ignomínia e crime em enxurradas de ódio onde flutuam venenos e pestes.

Mentiras e traições emoldurando as telas mentais dos homens.
E deixas que a amargura vinque a tua face, macerando tua alma.
Desejarias saltar do trampolim da fé as cristas procelosas do oceano em
aflição, atingindo a plataforma celeste, de um só impulso.

Mal sabes que o escritor das páginas impregnadas de beleza sofre também
no vale das sombras, sedento de luz.
Ignoras que o pregador carrega urzes no coração e tem as mãos feridas no
trato com o trabalho.
Desconheces as lágrimas que se derramam pelas faces dos apóstolos, no
labor abençoado.

Não estás informado das distâncias entre o ensino e a ação, nem te
apercebes de que há muito céu a descobrir nos corações humanos e muita
luz a esconder-se nas paisagens da aflição.
O céu do gozo começa na terra do trabalho, como a árvore gigante surge
na semente minúscula.

Desdobras as percepções e apura os ouvidos.
Muitos preconizam a paz social em guerrilhas familiares a que se não
podem furtar.
Outros ensinam a verdade, utilizando a astúcia, como se a sagacidade
fosse o instrumento de manejo nobre a serviço do ideal.

Encontrarás missionários atarefados com as igrejas e almas abandonadas
sem pastores nem agasalhos.
Não intentes um paraíso para ti, longe do trabalho fraternal aos irmãos
da margem.
Nem acredites em repouso justo sem a contribuição do necessário cansaço.

Há muita felicidade que é ociosidade negativa, como muita expressão que
é veneno verbal.
"O Reino de Deus - disse o Mestre - está dentro de vós mesmos."
Atende ao aflito, vigia as tuas atitudes, espalha a luz do
entendimento, trabalha sem cansaço, verificando que o terreno desolado,
quando arroteado com amor e perseverança, se transforma em jardim
colorido e perfumado.

Busca, desse modo, os céus da santificação; primeiro, porém,
santifica-te na Terra, transformando-a em bendito pomar de felicidade
perene, a um passo da glória da Imortalidade.