terça-feira, 16 de janeiro de 2007


O definitivo me assusta.

De todos os meus medos o maior vem de tudo que é definitivo.Dizem que na vida a única coisa para que não se tem solução é a morte.Concordo que a morte seja mesmo algo sem solução, que dela não temos como escapar por mais que sejamos saudáveis e gozemos de boa saúde.Quando chega a hora não há escapatória.Mas há outras coisas das quais podemos dizer também que são definitivas.Ao tempo passado não podemos voltar, podemos sim no máximo remediar algumas tolices cometidas, mas viver aquele tempo outra vez só em sonhos.Talvez seja por medo de sofrer que não tentamos reverter certas situações.A dor se apresenta sempre como um obstáculo para nos impedir de ao menos tentar.Meu coração nunca conheceu nada mais frustrante do que quando acredita em algo e se empenha, empenha, empenha e no fim descobre que foi em vão.Ele sabe que foi em vão não ter conseguido aquele objetivo embora tenha nesse esforço ganhado outras coisas.Mas não adianta, apesar disso o gosto da decepção sempre se sobrepõe a quaisquer outros sabores.Drumonnd diz no poema que dá titulo a esse texto que “ a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional”.O sofrimento é como um eco que fica repetindo na nossa cabeça tudo aquilo que foi “cancelado pela eternidade”Existe uma força que sempre se apresenta como solução para angústias, a perseverança. A perseverança é prima da esperança e ela é a força motriz para transformamos o impossível em possível, mas é preciso ter muito bom senso com ela, é preciso ter o discernimento em saber que tem certas coisas que não são pra gente.É preciso ter muito cuidado com o que se deseja.Eu mesmo já desejei muitas coisas e depois que as conseguia percebia que elas não eram pra mim.Sentia que elas deixavam algo fora do lugar e que era preciso agora “desdesejá-las”.E essas “desdesejos” fizeram parte do meu crescimento.Teve tanta coisa que eu desejei e conquistei que tive depois que abandonar.Pelo menos não sofrerei da dor que Drummond diz no mesmo poema: “Como aliviar a dor do que não foi vivido?”. Procurei sempre ir em busca daquilo que meu coração me dizia.Muitas vezes eram ruas sem saídas e em outras abismos nos quais eu caí e demorei anos para me levantar.Mas mesmo assim fui sempre até o fim desses caminhos.Se fiz algum dia a opção pelo sofrimento , se esfolei a minha pele até que ela ficasse em carne viva foi porque ao invés de ter construído pontes para entender as pessoas eu levantei paredes para me separar delas.“Quando eu estiver contigo no fim do dia, poderás ver as minhas cicatrizes, e então saberás que eu me feri e também me curei.”(Tagore)