quinta-feira, 10 de junho de 2010

SANTO DO DIA - Beato José de Anchieta

Missionário e Evangelizador dos índios
"Aqui fizemos uma casinha pequena de palha, e a porta estreita de cana. As camas são redes que os índios costuram; os cobertores, o fogo, para o qual, acabada a lição à tarde, vamos buscar lenha no mato e a trazemos às costas, para passarmos a noite. A roupa é pouca e pobre, sem meias ou sapato, de pano de algodão... A comida vem dos índios, que nos dão alguma esmola de farinha e algumas vezes, mas raramente, alguns peixinhos do rio e mais raramente ainda, alguma caça do mato."
Trecho de carta de Anchieta a Inácio de Loyola -1554.


O Menino
Corria o ano de 1540. Depois de quase cinqüenta anos das grandes viagens de portugueses e espanhóis, as pessoas mais esclarecidas começavam a aceitar o fato de que a Terra era redonda.
Em meio a um burburinho de idéias novas e técnicas de navegação que se modernizavam rapidamente, o menino José de Anchieta, numa das sete ilhas que formam as Canárias, via descortinar-se a seus olhos um novo mundo. O porto de Tenerife, o mais importante do arquipélago, era parada obrigatória dos navios portugueses. Ali se abasteciam para seguir viagem rumo ao Oriente e ao Novo Mundo.
Acostumado desde pequeno a contemplar embarcações que se lançavam à aventura de conquistar novos mares, terras e riquezas, José provavelmente já acalentava o sonho de viagens e novos conhecimentos. Quem sabe esse impulso para o descobrimento de outras paragens e culturas o tenha levado também a escolher a carreira sacerdotal, a fim de cumprir o seu destino de construir uma obra abrangente e renovadora em terras virgens.


O Ocaso
Um olhar para o passado... O padre José, aos sessenta e dois anos, tinha ainda no coração aquela inquietude e sede de conhecimento do menino. Mas, o corpo cansado queria descansar da vida dedicada à aventura, à peregrinação, ao desbravamento de um mundo misterioso. Seus olhos se enchiam de satisfação ao lembrar como estava contente o menino aventureiro que ainda tinha dentro de si: fora ele quem sonhara a vinda para o Brasil; o trabalho de evangelização; a fundação da vila que se tornaria a metrópole de São Paulo; a participação no nascimento da cidade do Rio de Janeiro; o ensino do latim; o aprendizado e a uniformização da língua dos índios brasileiros; as agruras dos tempos de refém em Ubatuba; as batalhas; as reconciliações. O menino lançava para o velho olhares de alegria não só pelas grandes realizações, mas também pelo dever cumprido da evangelização.

"Vi-me agora num espelho e comecei de dizer: Corcós, toma bom conselho porque cedo hás de morrer. Mas, com justamente ver o beiço um pouco vermelho disse: fraco estás e velho. Mas pode ser que Deus quer que vivas, para conselho."
Trecho de poema de Anchieta.

No outono da vida, Anchieta só podia percorrer curtas distâncias a pé, apoiado no inseparável cajado: a corcunda já não lhe permitia mais andar a cavalo. Mesmo assim, não deixava de cumprir suas visitas pastorais, uma herança da época em que era provincial. Aproveitou o tempo entre elas para escrever oito dos doze autos para a catequese. Nessas obras ele falava diretamente ao coração dos curumins, que assim recebiam a palavra de Deus. "Pandeirinha linda, ao faminto povo dais com vossa vinda pão de trigo novo. Não é d’Alentejo esse vosso trigo, mas Jesus amigo é vosso desejo." Antes do Renascimento, ao longo da Idade Média, todo teatro se representava nos adros da Igreja, isto é na entrada da Igreja, não dentro do recinto do templo. Lá então se faziam durante a Idade Média as chamadas representações sagradas que são comuns a todas as culturas. Os autos são representações de momentos fundamentais do cristianismo, então existem os autos de Natal, da Semana Santa, da Paixão.
Anchieta provavelmente conheceu, ou nas Canárias ou em Portugal, principalmente em Coimbra, essas representações. Então ele transpôs esse universo para o Brasil. Só que ele teve, vamos dizer, a inteligência, o bom senso de escrevê-los em tupi, e secundariamente em português, o que faz supor que os autos eram assistidos e até representados também por colonos... Esse teatro de Anchieta é as vezes muito informal, são lutas entre o bem e o mal representadas pelos anjos bons e anjos maus. O demônio entra a todo o momento, sai e é espancado... Os índios deviam divertir-se muito com essas representações."
Depoimento de Alfredo Bosi
Professor de Literatura Brasileira - USP

Reritiba, palco dos últimos anos de Anchieta, viu também o padre José dedicar suas noites à oração e ao trabalho de escrever a história da Companhia de Jesus no Brasil. Mas, como em todas as outras fases de sua vida, fatos extraordinários o acompanharam nessa etapa. As crônicas da época registram que por muito tempo toda a região de Vitória foi castigada por implacável seca. A fim de pedir a clemência dos céus, Anchieta organizou uma procissão em louvor a Nossa Senhora. Logo depois, os céus se abriram e a tão esperada chuva veio finalmente. Anchieta agradeceu a enorme graça recebida nesta igreja, hoje restaurada. A obra de Anchieta como apóstolo do Novo Mundo não haveria de passar despercebida das autoridades da Igreja, desde a época em que vivia. Mas, coube a João Paulo II, que presidiu a beatificação do padre José em 1980, o reconhecimento do Vaticano por sua dedicação à causa da evangelização.


As Origens
"Criou-se José em casa de seus pais... aos 14 anos foi enviado, com outro irmão de maior idade, à celebérrima Universidade de Coimbra, que então florescia no mundo, para que ali aperfeiçoasse a língua latina e atendesse a maiores ciências. Estas versou nas escolas dos padres da Companhia de Jesus e cresceu nelas de maneira que em breve tempo foi consumado em todo gênero de humanidades..."