quinta-feira, 7 de maio de 2009

A minha Mãe lhe diziam louca

A minha Mãe lhe diziam louca,
mas não era louca, era professora.
Falava diferente.
Dizia: "Os olhos servem para escutar".
Eu tinha dez anos de idade
Um menino, não compreende a linguagem vertical
e pensava que quiçá minha mãe era louca.
Certa vez me armei de valor e lhe perguntei:
Com que olhamos?
Minha mãe me respondeu:
"Com o coração"
Quando minha mãe se levantava de bom humor cantava:
" Hoje pus meu vestido de vinte anos".
Eu sabia que não tinha vinte anos e a olhava, nada mais.
Que pode fazer um menino, senão escutar?
Se minha mãe estava triste dizia estar vestida de nevoeiro.
" Hoje tenho oitenta anos" -disse-, quando desaprovei um curso.
Ao fim pude terminar a educação primária.
O dia da clausura chegou tarde.
Desculpou-se dizendo: "Hijito, demorei-me porque estive procurando
meu vestido de Primeira Comunhão,
Não vês meu vestido de Primeira Comunhão?".
Olhei a minha mãe
e não estava vestida de Primeira Comunhão.
Depois teve esse acidente fatal.
Chamou-me a seu lado,
pegou forte minhas mãos e disse:
"Não tenhas pena, a morte não é para sempre" .


Pensei: minha mãe não se dá conta do que fala.
Se um morre é para sempre.
Era menino e não entendia suas palavras.


Agora tenho cinquenta anos e recém compreendo seus ensinos.
Sim, Mãe,
podemos ter 20 anos e ao dia seguinte oitenta.


Tudo depende de nosso estado de ânimo.
Os olhos servem para escutar
porque devemos olhar com atendimento a quem nos fala.
Para conhecer a realidade essencial de uma pessoa,
temos que a olhar com o coração.
A morte não é para sempre,
só morre o que se esquece
e a minha mãe a recordação porque a quero.
Agora -em sonhos falamos-
nos rimos de seu método de ensino.
Aprendi a olhar com o coração.
Uma noite me disse:
"Notei que te molestas
se teus amigos te dizem louco e isso não está bem.
É natural que o filho de uma louca seja louco".
Então -pela primeira vez-
repliquei a minha mãe e lhe disse:
"Mãe, equivocas-te, não sempre o filho de uma louca
tem que ser louco; as vezes é poeta".
Por isso posso dizer com orgulho:
"A minha mãe lhe diziam louca, mas não era louca, era professora.
Me ensinou a descobrir a vida depois da morte".