sábado, 14 de março de 2009

A Saudade

Vencido pela profunda angústia da minha mágoa, despertei quando o jovem rosto da manhã adornado de luz e o mar de nuvens viageiras, me convidaram para o banquete do dia.

Levantei e percebi que não fora um pesadelo... A presença da sua ausência era a mais pura e triste realidade...

Não sei dizer ao certo se é a presença da ausência ou a ausência da presença, ou talvez seja, simplesmente, saudade...

Lá fora tudo respirava perfume e os braços do vento, carregando o pólen da vida, cantavam nos ramos do arvoredo delicada canção...

Saí a correr para fora, tentando fugir da furna escura dos meus padecimentos.

A presença invisível do bem-amado fazia-me arder em febre de ansiedade, enquanto os pés ligeiros das horas corriam à frente impondo-me fadiga e desconforto...

Embriagado pela saudade, meu ser ansiava pela paz...

Em vão tentei exaurir as forças para livrar-me da dor, mas não conseguia libertar-me do punhal da melancolia cravado no coração, e da lembrança da sua ausência...

Quando, enfim, a tarde se escondeu ao longe das montanhas altaneiras, outra vez tombei em mim mesmo, extenuado e só...

Naquele momento desejei que o Todo Poderoso me dominasse com os fortes recursos da soberana misericórdia, livrando-me de mim mesmo...

Parecia que não mais suportaria o espinho da saudade cravado em meu peito, já dorido e exausto...

A ausência da sua presença queimava as fibras mais sutis da minha alma. E a presença da sua ausência me feria o coração dilacerado e só...

A noite devorou o dia, e, ao escancarar a sua boca negra, mostrou a primeira estrela engastada no manto escuro, vencendo as sombras...

Minutos depois, miríades de astros brilhantes compuseram o diadema da vitória total da luz...

Só então, solitário e meditativo, compreendi como a minha canção de dor chegara ao ouvidos do Criador, que me respondeu em vibrações fulgurantes de esperança à distância...

Só então compreendi que não há escuridão que resista a um simples raio de luz, e decidi acender a chama da esperança em minha alma.

E só então, pude ouvir o Sublime Cancioneiro do silêncio e Suas melodias repletas de sons e paz, convidando-me a confiar em Seu infinito poder e entregar-me aos braços suaves da esperança...




Se o manto escuro da saudade pesa sobre os seus ombros, ilumine-o com as pérolas da oração sincera em favor do bem-amado que partiu.

Preencha a ausência da presença com a lembrança dos momentos compartilhados nas horas alegres, e confie no reencontro feliz.