Ser de ninguém
Na hora de cantar todo mundo enche o peito nas boates,
nos bares, levanta os braços, sorri e dispara:
"eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo
e todo mundo é meu também".
No entanto, passado o efeito do uísque com energético
e dos beijos descompromissados,
os adeptos da geração "tribalista" se dirigem
aos consultórios terapêuticos,
ou alugam os ouvidos do amigo mais próximo
e reclamam de solidão, ausência de interesse das pessoas,
descaso e rejeição.
A maioria não quer ser de ninguém,
mas quer que alguém seja seu.
Não dá, infelizmente,
para ficar somente com a cereja do bolo
beijar de língua, namorar e não ser de ninguém.
Para comer a cereja é preciso comer o bolo todo e nele,
os ingredientes vão além do descompromisso, como:
não receber o famoso telefonema no dia seguinte,
não saber se está namorando mesmo depois
de sair um mês com a mesma pessoa,
não se importar se o outro estiver beijando outra, etc.
Desconhece a delícia de assistir a um filme
debaixo das cobertas num dia chuvoso comendo pipoca
com chocolate quente,
o prazer de dormir junto abraçado,
roçando os pés sob as cobertas e a troca de cumplicidade,
carinho e amor.
Namorar é algo que vai muito além das cobranças.
É cuidar do outro e ser cuidado por ele,
é telefonar só para dizer bom dia,
ter uma boa companhia para ir ao cinema de mãos dadas,
transar por amor,
ter alguém para fazer e receber cafuné,
um colo para chorar, uma mão para enxugar lágrimas,
enfim, é ter
"alguém para amar".
Somos livres para optarmos!
E ser livre não é beijar na boca e não ser de ninguém.
É ter coragem,
ser autêntico e se permitir viver um sentimento...
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