sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Minha História

Ele vinha sem muita conversa,
sem muito explicar
Eu só sei que falava e cheirava
e gostava de mar
Sei que tinha tatuagem no braço
e dourado no dente
E minha mãe se entregou
a esse homem perdidamente


Ele assim como veio partiu
não se sabe pra onde
E deixou minha mãe com o olhar
cada dia mais longe
Esperando, parada,
pregada na pedra do porto
Com seu único velho vestido
cada dia mais curto


Quando enfim eu nasci minha mãe
embrulhou-me num manto
Me vestiu como se fosse assim
uma espécie de santo
Mas por não se lembrar de acalantos,
a pobre mulher
Me ninava cantando
cantigas de cabaré


Minha mãe não tardou a alertar
toda a vizinhança
A mostrar que ali estava bem mais
que uma simples criança
E não sei bem se por ironia
ou se por amor
Resolveu me chamar com o nome
do Nosso Senhor


Minha história é esse nome
que ainda hoje carrego comigo
Quando vou bar em bar, viro a mesa,
berro, bebo e brigo
Os ladrões e as amantes,
meus colegas de copo e de cruz
Me conhecem só pelo meu nome
Menino Jesus