domingo, 26 de abril de 2009

Carta

Meu amor...

Ao acordar hoje e me deparar com esta bela manhã de outono, lembrei-me de você...
Pareceu-me que ainda ontem havíamos nos falado, e no entanto, tantos anos se passaram, que nem sei se ainda se lembra de mim. O tempo é tão apressado, as palavras foram se amontoando, e eu nunca tive coragem de enviá-las. Ficaram velhas e cansadas, e eu olhando para elas...
Eu não deveria ter demorado tanto para me decidir, mas só hoje eu consegui. E vejo, pesarosa, que sobrou muito pouco, de tudo que eu tinha para lhe dizer... Algumas linhas tortas, palavras puídas e esperanças mortas ou agonizantes... muitas...


Foram tantas horas e dias e anos, que serviram de abrigo para o meu pensamento, sempre cheio de saudades do que me disse certa vez, e que não respondi, com medo de parecer ridícula...
Oh! Céus! Que bobagem a minha!
Aprendemos tarde demais que ser ridículo faz parte da melhor parte da vida. Ser ridículo é a coisa mais sensacional que pode nos acontecer, quando amamos alguém...
E hoje... tanto tempo depois, eu envergaria com prazer a vestimenta de palhaço, seria o bobo-da-corte sem temer, apenas para lhe dizer: - "Amo você!".
Não sei se ainda há tempo... receio que é tarde demais... quase sempre é tarde demais...
Dia chega em que assenta-se a poeira do amor, e onde houve estardalhaço no coração, muitas vezes fica só o silêncio, o dorido vazio... E recusa-se a nos abrir a porta, aquela esperança que um dia foi sonho, e que hoje o sonho não comporta.
E eu que não sei, que nada sei... vou tentar pela primeira e última vez, perguntar-lhe:
- Ainda me ama?
Se a resposta for não, reserve-me a ilusão...

De quem jamais o esqueceu...
Eu.