Tempo tão pouco
Não houve tempo para o beijo
de despedida.
Nem mesmo para um abraço apertado.
Tanta coisa ficou pela metade.
O livro em sua cabeceira.
O seu café sob a mesa.
O jornal daquele dia que
não chegou a ser lido.
O seu doce predileto que
se perdeu na geladeira.
Foi tudo tão repentino,
momentos rápidos, fugidios,
como se a própria vida quisesse me poupar do sofrimento
que estava por vir,
da escuridão da noite
que se faria em minha vida.
E foi mesmo de repente.
A partida definitiva.
Aquele dia não foi como os outros.
E eu nem percebi.
Não tive a sensibilidade de notar
que cada um daqueles momentos
seria o último de nós dois.
Não haveria mais o beijo de bom dia,
a conversa gostosa durante o almoço,
o seu sorriso fácil
que inundava a nossa casa.
Não haveria a sua constante alegria.
Não haveria mais você junto de mim.
E agora, tantos anos passados,
tantos dias sem saber
como seria o amanhã,
tantas noites de lágrimas tantas.
Saudade?
Imensa, doída, eterna.
Pela metade me senti.
Mas pela metade você não me deixou.
Deixou pedacinhos de você
que ficaram comigo.
E hoje são você,
materializadas em minha vida.
E cada vez que as olho,
é o seu sorriso que me chega,
é a sua expressão de paz
que me tranqüiliza o coração.
Elas.
O conforto que veio para que
eu conseguisse seguir em frente.
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