terça-feira, 22 de abril de 2008

Balada do Amor que não veio

Se acaso penso em ti, me inquieta o pensamento...
Por quê havias de vir assim tarde demais?
Bem que eu tinha de há muito um cruel pressentimento,
e há sempre um desespero em nós, se num momento
desejamos voltar a vida para trás...

Neste instante imagino o que teria sido
o meu vago destino desorientado,
se antes, eu já te houvesse um dia conhecido,
a esse tempo, meu Deus!...e esse tempo perdido
pudesse ao teu convívio ter aproveitado!

Não há nada entre nós, nada... e em verdade há a vida
que nos chama e nos prende!... E já agora imagino
que aqui estas ao meu lado a ouvir-me comovida
e me entregas a mão, e entrego-te vencida
a minha alma, e com ela todo o meu destino!

Não há nada entre nós, mas se nos encontramos
ouvirás de hoje em diante um poema onde tu fores,
trouxemos o destino estranho de dois ramos,
separados, que importa? ainda assim nos juntamos
confundindo as ramagens, misturando as flores...



E eu nem te vi direito! Um olhar sob um véu,
(há qualquer coisa estranha num olhar velado...)
um olhar, não direi que em teu olhar há um céu,
quando sei que afinal há tanta angustia e fel
em tudo o que me tens da vida revelado!

Acompanhei-te o vulto um segundo, alguns passos,
nada mais, e no entanto, se quiser pensar sou capaz de te ver,
( há gestos nos espaços, e guardei a visão dos teus braços,
teus braços guardei-os, como dois clarões dentro do olhar!)

E devem ser macias as tuas mãos, não ouso
pensar no que elas guardem nos seus finos dedos,
pensando em tuas mãos, penso em sombra, em repouso,
num lugar quieto e bom, e num vento amoroso
a soprar entre as folhas múrmuros segredos...

Mas... que saibas perdoar estas coisas que escrevo,
pensei-as a escutar distante a tua voz,
e há algumas coisas mais, que a dizer não me atrevo,
é que escrevo demais, e não posso, e não devo,
e não tenho o direito de falar de nós...