quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O Cavalinho e a Borboleta

Esta é a história de duas criaturas de Deus

que viviam numa floresta distante há muitos anos atrás.

Eram elas, um cavalinho e uma borboleta.

Na verdade, não tinham praticamente nada em comum,

mas em certo momento de suas vidas

se aproximaram e criaram um elo.

A borboleta era livre,

voava por todos os cantos da floresta

enfeitando a paisagem.

Já o cavalinho, tinha grandes limitações,

não era bicho solto

que pudesse viver entregue à natureza.

Nele, certa vez, foi colocado um cabresto

por alguém que visitou a floresta e a partir daí

sua liberdade foi cerceada.

A borboleta, no entanto,

embora tivesse a amizade de muitos outros animais

e a liberdade de voar por toda a floresta,

gostava de fazer companhia ao cavalinho,

agradava-lhe ficar ao seu lado e não era por pena,

era por companheirismo, afeição,

dedicação e carinho.

Assim, todos os dias, ia visitá-lo

e lá chegando levava sempre um coice,

depois então um sorriso.

Entre um e outro ela optava por esquecer o coice

e guardar dentro do seu coração o sorriso.

Sempre o cavalinho insistia com a borboleta

que lhe ajudasse a carregar o seu cabresto

por causa do seu enorme peso.

Ela, muito carinhosamente,

tentava de todas as formas ajudá-lo,

mas isso nem sempre era possível

por ser ela uma criaturinha tão frágil.

Os anos se passaram e numa manhã de verão

a borboleta não apareceu para visitar o seu companheiro.

Ele nem percebeu,

preocupado que ainda estava

em se livrar do cabresto.

E vieram outras manhãs e mais outras

e milhares de outras, até que chegou o inverno

e o cavalinho sentiu-se só

e finalmente percebeu a ausência da borboleta.

Resolveu então sair do seu canto e procurar por ela.

Caminhou por toda a floresta a observar

cada cantinho onde ela poderia ter se escondido

e não a encontrou.

Cansado se deitou embaixo de uma árvore.

Logo em seguida um elefante se aproximou

e lhe perguntou quem era ele e o que fazia por ali.

-Eu sou o cavalinho do cabresto e estou a procura

de uma borboleta que sumiu.

-Ah, é você então o famoso cavalinho?

-Famoso, eu?

-É que eu tive uma grande amiga

que me disse que também era sua amiga

e falava muito bem de você.

Mas afinal,

qual borboleta que você está procurando?

-É uma borboleta colorida, alegre,

que sobrevoa a floresta todos os dias

visitando todos os animais amigos.

-Nossa, mas era justamente dela

que eu estava falando. Não ficou sabendo?

Ela morreu e já faz muito tempo.

- Morreu? Como foi isso?

-Dizem que ela conhecia, aqui na floresta, um cavalinho,

assim como você e todos os dias

quando ela ia visitá-lo, ele dava-lhe um coice.

Ela sempre voltava com marcas horríveis

e todos perguntavam a ela quem havia feito aquilo,

mas ela jamais contou a ninguém.

Insistíamos muito para saber

quem era o autor daquela malvadeza

e ela respondia que só ia falar das visitas boas

que tinha feito naquela manhã

e era aí que ela falava com a maior alegria de você.

Nesse momento o cavalinho

já estava derramando muitas lágrimas de tristeza

e de arrependimento.

- Não chore meu amigo,

sei o quanto você deve estar sofrendo.

Ela sempre me disse que você era um grande amigo,

mas entenda, foram tantos os coices

que ela recebeu desse outro cavalinho,

que ela acabou perdendo as asinhas,

depois ficou muito doente, triste,

sucumbiu e morreu.

-E ela não mandou me chamar

nos seus últimos dias?

-Não, todos os animais da floresta quiseram lhe avisar,

mas ela disse o seguinte:

"Não perturbem meu amigo com coisas pequenas,

ele tem um grande problema

que eu nunca pude ajudá-lo a resolver.

Carrega no seu dorso um cabresto,

então será cansativo demais pra ele

vir até aqui."



Você pode até aceitar os coices que lhe derem

quando eles vierem acompanhados de beijos,

mas em algum momento da sua vida,

as feridas que eles vão lhe causar,

não serão mais possíveis de serem cicatrizadas.

Quanto ao cabresto que você tiver que carregar

durante a sua existência, não culpe ninguém por isso,

afinal muitas vezes, foi você mesmo

que o colocou no seu dorso.