sábado, 25 de julho de 2009

A Voz do Silêncio

Pior do que a voz que cala é um silêncio que fala.

Simples, rápido. E quanta força.

Imediatamente me veio à cabeça situações

em que o silêncio me disse verdades terríveis,

pois, você sabe, o silêncio não é dado a amenidades.

Um telefone mudo. Um e-mail que não chega.

Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.

Silêncios que falam sobre desinteresse,

esquecimento, recusas.

Quantas coisas são ditas na quietude,

depois de uma discussão.

O perdão não vem, nem um beijo,

nem uma gargalhada

para acabar com o clima de tensão.

Só ele permanece imutável,

o silêncio, a ante-sala do fim.

É mil vezes preferível uma voz que diga coisas

que a gente não quer ouvir,

pois ao menos as palavras que são ditas

indicam uma tentativa de entendimento.

Cordas vocais em funcionamento

articulam argumentos,

expõem suas queixas, jogam limpo.

Já o silêncio arquiteta planos

que não são compartilhados.

Quando nada é dito, nada fica combinado.

Quantas vezes, numa discussão histérica,

ouvimos um dos dois gritar:

'Diz alguma coisa, mas não fica

aí parado me olhando!'

É o silêncio de um mandando más notícias

para o desespero do outro.

É claro que há muitas situações

em que o silêncio é bem-vindo.

Para um cara que trabalha com uma britadeira na rua,

o silêncio é um bálsamo.

Para a professora de uma creche,

o silêncio é um presente.

Para os seguranças de um show de rock,

o silêncio é um sonho.

Mesmo no amor,

quando a relação é sólida e madura,

o silêncio a dois não incomoda,

pois é o silêncio da paz.

O único silêncio que perturba é aquele que fala.

E fala alto...

É quando ninguém bate à nossa porta...

não há recados na secretária eletrônica....

e mesmo assim você entende a mensagem.