domingo, 21 de junho de 2009

Ser, Ter e Fazer de Conta

Recentemente uma professora,

que veio da Polônia para o Brasil ainda muito jovem,

proferia uma palestra e,

com muita lucidez trazia pontos importantes

para reflexão dos ouvintes.

Já vivi o bastante para presenciar três períodos distintos

no comportamento das pessoas, dizia ela.

O primeiro momento eu vivi na infância,

quando aprendi de meus pais que era preciso SER.

Ser honesta, ser educada, ser digna, ser respeitosa,

ser amiga, ser leal.

Algumas décadas mais tarde, fui testemunha da fase do TER.

Era preciso ter.

Ter boa aparência, ter dinheiro, ter status, ter coisas,

ter e ter...

Na atualidade, estou presenciando a Fase do Faz de Conta.

Analisando sob esse ponto de vista,

chegaremos à conclusão que a professora tem razão.

Hoje, as pessoas fazem de conta e está tudo bem.

Pais fazem de conta que educam,

professores fazem de conta que ensinam,

alunos fazem de conta que aprendem.

Profissionais fazem de conta que são competentes,

governantes fazem de conta que se preocupam com o povo

e o povo faz de conta que acredita.

Pessoas fazem de conta que são honestas,

líderes religiosos se passam por representantes de Deus,

e fiéis fazem de conta que têm fé.

Doentes fazem de conta que têm saúde,

criminosos fazem de conta que são dignos

e a justiça faz de conta que é imparcial.

Traficantes se passam por cidadãos de bem

e consumidores de drogas fazem de conta

que não contribuem com esse mercado do crime.

Pais fazem de conta que não sabem

que seus filhos usam drogas, que se prostituem,

que estão se matando aos poucos,

e os filhos fazem de conta que não sabem

que os pais sabem.

Corruptos se fazem passar por idealistas

e terroristas fazem de conta que são justiceiros...

E a maioria da população faz de conta

que está tudo bem...

Mas uma coisa é certa:

não podemos fazer de conta quando

nos olhamos no espelho da própria consciência.

Podemos até arranjar desculpas para explicar

nosso faz de conta, mas não justificamos.

Importante salientar, todavia,

que essa representação no dia-a-dia,

esse faz de conta, causa prejuízos para aqueles

que lançam mão desse tipo de comportamento.

A pessoa que age assim termina

confundindo a si mesma e caindo num vazio,

pois nem ela mesma sabe quem é, de fato,

e acaba se traindo em algum momento.

E isso é extremamente cansativo e desgastante.

Raras pessoas são realmente autênticas.

Por isso elas se destacam nos ambientes

em que se movimentam.

São aquelas que não representam,

apenas são o que são, sem fazer de conta.

São profissionais éticos e competentes

amigos leais, pais zelosos na educação dos filhos,

políticos honestos,

religiosos fiéis aos ensinos que ministram.

São, enfim, pessoas especiais, descomplicadas,

de atitudes simples, mas coerentes e,

acima de tudo, fiéis consigo mesmas.

Você sabia?

Que a pessoa que vive de aparências

ou finge ser quem não é corre sérios riscos

de entrar em depressão?

Isso é perfeitamente compreensível,

graças à batalha que trava consigo mesma

e o desgaste para manter uma realidade falsa.

Se é fácil enganar os outros,

é impossível enganar a própria consciência.

Por todas essas razões, vale a pena ser quem se é,

ainda que isso não agrade os outros.

Afinal, não é aos outros que prestaremos contas

das nossas ações,

e sim a Deus e à nossa consciência.