DECIFRA-ME OU DEVORO-TE

Estarei incólume, presa
entre as paredes da
minha incógnita.
Meus olhos chispam metais
com pontas afiadas
sob a expectativa
da tua influência insólita,
e se aglomeram
babando gotas
de saliva que me entorna,
ensopando assim a astúcia
que me governa.

Sou a Esfinge esfomeada
que tresloucada espera.
Diz de mim,
quem verdadeiramente sou.
Descobre-me inteira na poeira que restou.
Nada se desfaz quando se nega;
desnuda minha carne
que por hora se entrega.

Advinha-me sobre o meu vulto sem beleza,
Acode-me em sussurradas sílabas de incerteza.
Abana-me com o vento da igualdade
disfarçando teus desejos encobertos
pelo véu da vaidade.
Extirpa de meu ventre, certa e segura,
a vida que lateja já madura,
espoliada por tua covardia.
Revela-me antes que amanheça o dia,
Ou então, por caprichosa tentação,
por sandice, amor ou constatação,
vou devorar-te ante a minha tumba fria.