Como a folha que cai
A folha caiu e deixou só o cheiro da primavera
Foram-se as horas de paz e o aceno de mão
Ficou o gerânio vermelho e a rosa amarela
O olhar cansado e o lento bater de um coração
Foi desde o começo um amor proibido
Que fez voltar os anos perdidos da mocidade
Tocou profundo como flecha de cupido
Deixou a dor de uma imensa saudade
Vejo ainda ressurgir aquele adeus de outrora
Na curva longínqua e o teu vulto sonhado
Prá que olhar as estrelas, saber da hora
Torno a chamar-te e recebo um eco angustiado
Pego a folha com mãos trêmulas e inseguras
Tento buscar nela o cheiro do incenso desfeito
Encontro sombras roxas de amarguras
E uma lágrima salgada que desce até o peito
Minh'alma soluça e busca teu nome no infinito
Quisera tornar ao pretérito e mergulhar no espaço
Dar mãos àquela que foi minha musa, meu mito
E deixar o que nunca foi dado, o meu abraço.
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