quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A ESCOLA

Muita caridade se pratica realmente na Terra, como
lançamento de alicerces à nossa felicidade futura.
Há quem levante valiosos monumentos de pedra para
acolher os famintos da estrada, saciando-lhes a fome
e vestindo-lhes o corpo.
Quantas vezes temos vertido lágrimas ao pé do enfermo
abandonado à própria sorte?
Em quantas ocasiões a indignação nos assoma à boca,
diante do sofrimento de uma criancinha desprezada?
Em razão disto, comumente, a prece de gratidão emerge
a para de nossa alegria, quando contemplamos as casas
de amor fraterno, erguidas pela beneficência nas
grandes e nas pequenas cidades, oferecendo uma pausa
ou um ponto final à dura miséria.
Perante o moribundo sem família, que haja encontrado
um teto, ou diante do menino infeliz, que se regozija
com o seio materno que lhe faltava, faz-se em nossa alma
o grande e intraduzível silêncio do júbilo, que se não
exterioriza em palavras.
O infortúnio do próximo é sempre a nossa
infelicidade provável.
A dor é, como o incêndio, suscetível de transferir-se
da habitação do vizinho para a nossa casa.
Atentos em semelhante realidade, somos constrangidos
a reconhecer que qualquer espécie de benemerência exalta
o gênero humano e santifica-o, por fazer-nos mais
confiantes na virtude e mais seguros de nossa
vitória final no bem.
O Criador como que se revela sempre mais sábio, mais
vivo e mais abundante de graças nos mínimos
acontecimentos em que a bondade da criatura
se manifesta.
Seja amparando o velho mirrado, seja insuflando
coragem ao triste, ou abrigando o órfão, ou pensando
as feridas de um corpo em chaga, o coração que ajuda
é invariavelmente um foco de luz cujo brilho se irradia
em ascensão para os mais altos céus.
Mas uma caridade existe, mais extensa e menos visível,
mais corajosa e menos exercida, que nos pede concurso
decisivo para a melhoria substancial da paisagem
humana.
É a caridade daquele que ensina.
A Terra de todos os séculos sofre a flagelação de dois
grandes males. Um deles é a miséria.
O outro, e o maior, é a ignorância.
É a ignorância a magia negra de todos os infortúnios.
Ao seu grosso tição de trevas, o rico esconde o ouro
destinado à prosperidade, e o pobre se envenena com
o desespero, eliminando as possibilidades
resultantes do trabalho.
Pela ignorância, os homens se julgam senhores
absolutos do latifúndio terrestre, que lhes não
pertence, arruinando-se em guerras de extermínio;
o bom se faz ameaçado pela crueldade esmagadora,
o mau se torna pior; a evolução de alguns estaciona
com o manifesto atraso de muitos, e a vida, que é sempre
magnífico patrimônio de recursos para a sublimação,
se vê assediada pela discórdia e pela ira, pela ociosidade
e pela indigência.
Na rede da ignorância, o homem complica todos os
problemas do seu destino, por ela contribui para as
aflições alheias e com ela se arroja aos abismos da
dor e se entrega às surpresas do tempo.
Por este motivo, se o orfanato ou o asilo são casas
abençoadas do agasalho e do pão, a escola será, em todos
os seus graus, um templo da luz divina.
O pão mantém a carne perecedoura.
A luz santifica o espírito eterno.
Não bastará disciplinar as maneiras do homem adulto,
como quem submete animais inteligentes.
A domesticação reclama apenas um braço firme, uma
vergasta e uma voz autoritária, que não hesitem
na aplicação da força corretiva.
Bom é corrigir. Melhor, porém, é educar.
A retificação rude, não raro, produz o temor destrutivo.
O aperfeiçoamento suave e persuasivo gera sempre
o amor edificante.
A ignorância necessita de muito esforço e sacrifício para
deixar suas presas.
Quem se consagre ao mister de auxiliar deve
dispor-se a sofrer.
O exemplo é a força mais contagiosa do mundo.
Por esta razão, quem conserve hábitos dignos, quem
se devote ao dever bem cumprido, quem fale ou escreva
para o bem, combate a ignorância na posição de soldado
legítimo do progresso.
Semelhantes benefícios, no entanto, precisam da sagrada
iniciação com o ato de alfabetizar.
Ensinar a ler e elevar o padrão mental de quem lê
constituem obras veneráveis de caridade.
Descerremos a espessa cortina de sombras que retém
o espírito – ninfa divina – no casulo da inércia.
Os que trabalham em favor das garantias públicas, se
quiserem alcançar, efetivamente, as realizações a que se
propõem, não podem esquecer, em tempo algum,
a instrução e a educação.
É por elas e com elas que as nações sobrevivem no
turbilhão dos acontecimentos que agitam os séculos.
À claridade que despendem, extinguem-se os pruridos
de hegemonia que desencadeiam os conflitos civis e
internacionais, fenece a agressão, desaparece o ódio,
apaga-se o incêndio da revolta.
Depois da morte, reconhecemos que todas as atividades
do homem, por mais nobres, terão sido vãs, ou, mesma
cinza niveladora se o objetivo de aperfeiçoamento
espiritual não foi procurado.
Pela conquista do ouro, quase sempre acordamos velhos
monstros do egoísmo que jazem adormecidos
dentro da alma.
Pela ascensão ao poder político, não raro, a massa
enlouquece no delírio da vaidade.
Pelo abuso nos prazeres físicos, frequentemente o homem
se equipara ao bruto.
Sem a escola, somente liberamos os instintos inferiores
da personalidade ou da multidão, quando pretendemos
libertar-lhes a consciência.
Educando e educando-se, o espírito penetra a essência
da vida, compreende a lei do uso e elege o equilíbrio por
norma de suas menores manifestações.
Grande é a tarefa do pão, que gera o reconhecimento
e a simpatia; entretanto, muito maior é o ministério
do abecedário, que opera o divino milagre da luz,
estabelecendo a comunhão magnética entre a inteligência
do aprendiz de hoje e a mente do instrutor que
viveu há milênios.
Cultura e, sobretudo, esclarecimento, são armas
pacíficas contra a discórdia.
Abramos escolas e o canhão se recolherá ao museu.
Se cada criatura que sabe ler alfabetizasse uma só
das outras que desconhecem a sublime função do
livro, a regeneração do mundo concretizar-se-ia
em breve tempo.
Jesus desempenhou o mais alto apostolado da Terra
sem uma cátedra de academia, mas não se projetou
nos séculos sem as letras sagradas do Evangelho.
É preciso ler para saber pensar e compreender.
Por esta razão expressiva, o Cristo, que consolou almas
aflitas e curou corpos doentes, que patrocinou a causa
dos sofredores e construiu caminhos para a
salvação das almas nos continentes infinitos da
vida, não se afirmou como sendo restaurador ou médico,
advogado ou engenheiro, mas aceitou o título de Mestre e
nele se firmou, por universal consagração.
Fortaleçamos a escola, pois.