SOBRE A PREGUIÇA
Tenho em mãos sua consulta,
Minha prezada Larissa,
Você procura por nós,
Informes sobre a preguiça.
Preguiça mesmo no Além,
É uma sombra malfazeja,
Que o nosso espírito abraça,
Contra si próprio onde esteja.
É treva de obsessão,
Tão forte aí quanto aqui,
Moléstia do pensamento
Que a pessoa esconde em si
A preguiça escuta o verbo
De quem procura ajudar,
A prova, aceita, agradece,
Depois se põe a queixar.
Fala que anseia servir,
Dia a dia, hora por hora,
Que o trabalho é sempre a trilha
Por onde a vida melhora.
Afirma que a vida é luta,
Conhece o próprio dever,
Mas apresenta as razões
Porque não pode atender.
Preguiça não evolui,
Diz ela: — porque não tem,
Palavra de voz amiga
Nem proteção de ninguém.
As lágrimas que carrega
Só ela as vê como são,
Tem problemas que não cessam,
Tem família em provação.
Traz a saúde imperfeita
Embora reze com fé,
Suporta a cabeça fraca,
Carrega fogo no pé.
Tem cólica, batedeira,
Dor no fígado e no baço,
De dia, tudo é tristeza,
De noite, tudo é cansaço.
Sente aflição e azedume,
Sofre a queda dos cabelos,
Caminha de perna bamba,
Tem dores nos tornozelos.
Padece angústia constante,
Vê fel por todos os lados,
Alega a perseguição
De espíritos atrasados.
Quando está caindo chuva
Sofre zelos naturais,
Quando o calor aparece
Diz que o calor é demais.
Não se agüenta com vizinhos
Que estão sempre contra ela,
Em casa nunca dispõe
De apoio da parentela.
Preguiça, prezada irmã,
É sempre uma cousa assim:
Um sofrimento parado
Numa doença sem fim.
Preguiça, antiga moléstia,
É praga na criatura,
Recebe muito remédio
Mas só serviço é que cura.
|