quinta-feira, 31 de julho de 2008

OUVINDO O SERMÃO DA MONTANHA

Bem-aventurados os aflitos, desde que não convertam a própria dor em
azorrague de recriminações sobre a face alheia.

Bem-aventurados os que choram, contudo, desfrutarão a divina bênção se não
transformarem as próprias lágrimas em venenosa indução à preguiça.

Bem-aventurados os sedentos de justiça, no entanto, para que o título
celeste lhes exorne o espírito atormentado, será preciso se abstenham de
demandas domésticas ou de querelas nos tribunais com que apenas agravariam
os próprios débitos, ante a Lei.

Bem-aventurados os humildes de espírito todavia, para que se adornem com o
sublime talento, é indispensável não conduzam a própria modéstia ao caminho
do orgulho em que se entregarão, desvairados, à crítica desairosa e à
condenação sistemática dos companheiros que lhes partilham a senda.

Bem-aventurados os misericordiosos, mas para que se ergam felizes, na
execução da promessa, é imprescindível não façam da compaixão simples peça
verbal, para discurso brilhante.

Aflição com revolta chama-se desespero.

Pranto com rebeldia é poça de fel.

Sede de justiça com reivindicações apressadas é destrutiva exigência.

Singela com reproches à alheia conduta é sistema de crueldade.

Misericórdia sem esforço de auxílio é simples ornamento na boca.

Cogitemos de assimilar as bem-aventuranças divinas, sem nos esquecermos,
porém, de que todas elas traduzem atitudes da consciência e gestos do
coração, porque só no coração e na consciência é que se fundamentam os
alicerces do glorioso Reino de Deus.