O Cantar das Águas
Ah se eu pudesse deixar tudo para trás
Não crer em fantasias
Não amar sem ter certeza de ser amada
Esquecer sonhos impossíveis
Não esperar nada acontecer
Deixar apenas como um rio
A vida lentamente correr!
Fiz-me surda ante a frieza de tua voz
Quantas vezes eu me fiz cega e muda
Não me esvaí em lágrimas
Para não dilacerar meu próprio coração
Jamais alcancei ou desvendei
O enigma do teu âmago ou da tua alma!
Sempre guardaste os teus segredos
E te fechaste em conchas
Nunca os compartilhaste comigo
Eu que me doei de corpo e alma para te sentir feliz!
Homem frio que apenas simulava amor por mim
Minha alma refletia um imenso brilho por onde vagava
Iluminando os campos nas frias madrugadas
Enquanto o luar dormitava
Eu não sentia meu corpo nem discernia
Se ele corria ou voava!
Ao amanhecer ouvia o cantar das águas
Saudando o sol e a vida
E eu desesperada continuava correr e voar
Atrás do tempo
Meu canto nostálgico não saudava nada!
Meus pés desgovernados como o vento
Voavam para longe do cantar das águas
A cada passo largo que eu mudava
Tocando a água brutalmente
Tanto o desejo de transmutar meus sonhos
Sentir-me solta a voar no espaço
Sem ter ninguém por testemunha!
Continuar minha viagem astral era o que eu mais desejava
Não pensar não lembrar de voltar
Ao meu ninho vazio frio triste isento de carinho e felicidade!
De repente um clarão iluminou o céu
Ouvi uma voz angelical sussurrar-me ao ouvido
Dizendo...
Menina crê em tuas fantasias em teus sonhos
E torna a amar a vida!
As águas dos rios das cachoeiras riachos e fontes
Calaram seu canto
A natureza pede que eu não deixe de ouvir o cantar das águas
Por ser triste demais
Cantar para ninguém
Cantar para o nada!
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