CACAU!
Até ontem eu não tinha nome...
Nem dono e nem uma casa
Eu dormia ao relento, na chuva e no vento
Eu morava no lixão, lá onde descarregam caminhões.
Eu ficava lá rasgando os sacos, com um bando de amigos
procurando por comida
Eu fui muito chutado, atropelado, ignorado...
Meu corpinho guarda todas as cicatrizes da minha triste vida...
Minha patinha traseira apóia pouco no chão, reflexo de
minha condição.
Muito dos meus amigos morreram soterrados no lixão
Lá é assim, os caminhões chegam e descarregam a caçamba
em cima de todos nos, e salve-se quem puder...
Um dia destes eu estava lá e alguém me agarrou fortemente
Acho que foi a primeira vez que eu senti o que era
estar nos braços de um ser humano...
Eu não ofereci resistência, já estava cansado, pedindo
clemência...
Me levaram para um lugar que tinha muitos e muitos
cães, e me deram água e comida, e me ajeitei por ali
Éramos em muitos, mas eu me senti abrigado e mais
seguro, já me sentia cuidado, amado.
Tomei banho, um banho que não era de chuva, um banho
que me livrou das centenas de pulgas que eu portava
Foi uma sensação que eu jamais tinha experimentado...
No dia seguinte me colocaram dentro de um carro, em uma
gaiolinha, junto com outros, e eu estava assustado...
Paramos dentro do estacionamento de um super mercado e
alí armaram varias cercados, e eu fui colocado lá dentro
As pessoas passeavam a nossa volta, alguns curiosos,
outros com olhar de piedade, outros nos examinando atentamente
Eu fiquei alí deitado, encolhidinho de medo...
Alguem passou, me rodeou, pediu para me tirar do
cercado, e me pegou no colo.
Era um colo tão quentinho, mas a mulher que me pegou
começou a chorar...
Ela me apertou contra o peito dela e chorava muito, eu
não entendia bem o porque...
As pessoas que me levaram para lá, rodearam a mulher
para ela me adotar
Eu não sabia o que era adotar, só sabia que aquele
colinho era tudo que eu queria.
Mas a mulher não parava de chorar...Aí eu olhei pra ela
fixamente, meus olhinhos estavam brilhantes, e eu não queria deixar
aquele colinho...
Ela dizia para as outras assim: - Eu não posso
agora...meu coração ainda esta de luto...Acho que não consigo...
Minhas patas agarraram mais nos braços dela...
Ela me colocou de volta dentro do cercado, e eu me
encolhi novamente de medo...e fiquei olhando ela se afastar...
Disseram para ela que logo seríamos todos recolhido, a
feirinha estava quase encerrando
A Mulher saiu, disse que ia ao mercado e sumiu...
Ela andou...andou dentro do mercado, chorando...
Quando ela retornou e passou por perto da feirinha, eu
já estava dentro da gaiola, e dentro do carro pronto para partir
A porta do carro estava quase se fechando
Eu vi pela fresta da porta, a mulher do colinho
gostoso, ela estava alí em pé e estática...
Olhei para ela mais uma vez, implorei com meu olhar que
me tirasse dalí...
Eu rezei!
Ela chorava...Chorava muito....muito....
O pessoal da feirinha voltou a rodea-la, trouxeram água
pra ela tomar
E ela em prantos disse: - Abram a porta, aquele cão é MEU!
Me tiraram da gaiola, e me colocaram no colo dela!
Ela me abraçou, me beijou a cabecinha, me apertou muito
e assinou todos os termos de compromisso
Ela perguntou se eu tinha nome...
Disseram que não...Afinal eu morava no lixão....
Então de imediato ela ali mesmo me batizou com o nome de Cacau!
E porque Cacau?
Porque de Cacau são feito os mais doces chocolates
E o MEU CACAU, contém a essência Divina!
E lá vou eu, Cacau e eu!
Que Cacau me ajude a superar a saudades que as vezes
penso me arrebentar a alma..
Que se não fosse o tratamento espiritual que estou
fazendo creio que não teria aguentado...
Que eu possa ajuda-lo a ter a vida digna que ele merece
Cacau é tímido, e muito manso, e esta aprendendo a confiar
Hoje eu o levei ao veterinário, para tomar vacinas, um
anti alérgico devido as picadas das pulgas que deixaram seu corpinho
todo empipocado e isto ainda causa coceiras desconfortáveis
Não conseguimos descobrir sua idade real, mas deve ter
em torno de 4 anos ou mais
Mas pouco importa a idade, o passado de Cacau ficou
para trás, o que conta são os dias vindouros de um futuro digno de
alegria e paz.
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