segunda-feira, 23 de junho de 2008

SOBREVIVI

Por vários anos vivi sozinho, em famílias de acolhimento,
porque a vida vadia assim me o obrigou.

De nada me queixo, pois que nunca me faltou alimento,
todo aquele que o me organismo suportou.

De ciganos a africanos fiz minha possível morada,
trabalhando para eles, em ofício degradante.

Nada podia fazer, puseram-me no cimo de uma amurada,
e ali meu vício diário, tive por garante.

E enquanto eles enriqueciam com o meu labor,
mais e mais fui entorpecendo meu débil corpo.

Lembro-me bem, de pronunciar a palavra amor,
entanto meu ser há muito estava morto.

Fugi… para terras, que julguei de ninguém,
na vã tentativa de a tudo renegar e fértil vida viver.

Entanto, como esta corja, não há quem,
e astutamente me conseguiram convencer.

E assim regressei à minha vida de pesadelo,
quilos e quilos desfilavam, ante minha vista já rendida.

Ah, quem me dera, a bom tempo sabe-lo,
ter estudado afincadamente, granjeando uma boa vida.

Porém, hoje, liberto do vil e atroz vício,
encontro em mim uma pessoa de bem-querer.

A tudo devo, o meu enorme e glorificado sacrifício,
e à enorme vontade de tornar a viver.