terça-feira, 22 de janeiro de 2008

COM O QUE TENS

Narram os versículos primeiros do capítulo 3 de

Atos dos Apóstolos, no Novo Testamento, que Pedro

e João subiram ao templo para orar.

Perceberam, ao lado da porta, um coxo de nascimento,

que era diariamente trazido, e ali deixado, a fim de esmolar.
Ao ver os dois apóstolos por ele passarem, fez a sua rogativa.

Pedro pôs nele os olhos e lhe disse: "Olha para nós.”

O homem os olhou com atenção, ficando na expectativa

de que eles lhe dessem alguma coisa.
Mas o velho apóstolo, passando as mãos ao longo da

túnica rústica, emocionado, falou:

"Não tenho prata nem ouro.”
Na seqüência, distendeu os braços na direção do

mendigo e com os olhos marejados de sentidas lágrimas,

usou a voz embargada para falar:

"Mas o que tenho, isso te dou:

em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te, e anda.”
Tomou-lhe da mão direita, levantou-o e imediatamente

as pernas se consolidaram, os pés se firmaram e

o coxo pôs-se a andar, exultando de felicidade.

Meditemos na profundidade da lição.

Pensemos em como seria o Mundo se todos os homens

estivessem resolvidos a dar o que possuem para a

edificação do bem geral.

Ainda hoje, muitos dizemos:

"Como poderei dar se não tenho?”

e outros: "Quando tiver, darei.”
Contudo, para o serviço real do bem, não necessitamos,

em caráter absoluto, dos bens perecíveis da Terra.
O homem generoso distribuirá dinheiro e utilidades

com os necessitados que encontre pelo caminho.
Entretanto, se não realizou em si mesmo o sentimento

do amor, que é sua riqueza legítima, não fixará dentro

de si a luz e a alegria que nascem das dádivas.

Todos trazemos conosco as qualidades nobres

já conquistadas.

Não há ninguém tão pobre que não possa se dar.

Dar de si mesmo.
Pedro ofereceu seu amor ao pedinte e lhe devolveu

o uso das pernas, o que o retirou, desde então,

da condição de mendigo.
Curado, a possibilidade do trabalho e o conseqüente

ganho honrado se lhe abriram.
Também nós podemos dar do que temos, agora, no

momento que se faz precioso.

Todos os que esperamos pelo dinheiro, pelas posses,

para contribuir nas boas obras, em verdade ainda nos

encontramos distantes da possibilidade de

ajudar a nós próprios.
Doar-se é servir com desinteresse.

Dar das nossas horas, do nosso tempo, das nossas habilidades.

Há tanto para dar, desde que cada criatura, na Terra,

é depositária da enorme fortuna que angariou ao longo

dos séculos, nas várias vidas.

Fortuna que não se guarda em cofres ou casas bancárias,

mas se aloja na intimidade do coração e na lucidez da mente.
* * *

O discípulo de Jesus que, na relação dos apóstolos,

é chamado Pedro chamava-se Simão.
Ele nasceu em Betsaida, mas na época do seu encontro

com Jesus morava em Cafarnaum.
Pedro é a forma masculina que em grego significa rocha.

Talvez por isto mesmo tenha recebido de Jesus, desde

o primeiro encontro, o apelido aramaico de Cefas,

que significa rocha