quarta-feira, 7 de abril de 2010

A RESSURREIÇÃO DO SENHOR

Boa Esperança, 04 abr (RV) -
“Ressuscitei, ó Pai, e sempre estou contigo: pousaste sobre mim a tua mão, tua sabedoria é admirável, aleluia!”(cf. sl 138, 18.5s)

“Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos!”(cf. Sl 117).
Com grande alegria, as alegrias eternais, celebramos neste dia santo a Ressurreição do Divino Salvador. Hoje a terra celebra o evento mais importante de ontem, de hoje e de sempre, a Ressurreição do Senhor.
Dizia anteontem no Sermão do Descendimento da Cruz que nós não devemos limitar a nossa fé carregando o esquife com um Jesus inerte, que nada questiona. O que nós precisamos fazer é remover a pedra do Sepulcro e enxergar o Cristo luminoso e ressuscitado que irrompeu o império da morte e anunciou a vida eterna, a vida em Deus.
Jesus, o autor da vida, nos dá uma nova e eterna vida; a vida do céu. A morte verdadeira de Jesus continua para todos nós uma doce lição de encantamento e de amor e não é difícil de entender. Sua ressurreição confirma todas as suas palavras e ensinamentos, e será sempre um doce mistério, isto é, um fato que ultrapassa toda a compreensão racional e é apenas apreendido pela fé.
A ressurreição deve ser entendida como ponto fundamental de nossa fé cristã. Fundamental no sentido estrito da palavra: é fundamento sobre o qual se levantou e levanta-se o edifício de nossa fé católica e apostólica. Tirado este fundamento, todo o edifício ruiria. Um Cristianismo não construído sobre a ressurreição seria impossível. A ressurreição é o único milagre que garante a divindade de Jesus de Nazaré. É a única prova indestrutível de sua messianidade redentora.
Hoje é Páscoa, que significa passagem! Para nós passagem do pecado para a vida da graça, passagem da morte eterna para a vida em Deus, a vida plena.
O túmulo está vazio! O corpo de um homem pregado numa cruz não está lá mais. Jesus Ressuscitou para nos salvar ao terceiro dia.
Aqueles que procuravam Jesus entre os mortos não o encontraram, porque Ele havia ressuscitado. Vamos encontrá-Lo falando com os Apóstolos incrédulos, comendo com eles e mostrando-lhes as mãos e os pés perfurados pelos cravos. Encontramo-Lo, consolando Maria Madalena angustiada desde o Calvário. Encontramo-Lo ressuscitado, explicando aos discípulos entristecidos de Emaús o significado das profecias e de suas próprias palavras.
Todos nós hoje devemos repetir a seqüência da santa Missa que encantou a minha infância e permeia toda a minha vida: “Cantai, cristãos, afinal: Salve ó vítima pascal! Cordeiro inocente, o Cristo, abriu-nos do Pai o aprisco!”.
Sim, aleluia, hoje e sempre! Porque Jesus é maior do que a morte e a venceu e, por sua vitória, todos nós viveremos. Aleluia, porque a Páscoa de hoje é certeza de páscoa eterna!
A Páscoa é festa de libertação, desde os tempos de Moisés. Na páscoa moisaca se celebrava a passagem do povo da escravidão para a liberdade e a sua caminhada para a Terra Prometida.
Agora Jesus veio reescrever a velha aliança nos dando uma nova e eterna aliança: a passagem do pecado para a graça. A passagem da morte para a vida eterna. Jesus arrancou com a sua morte a maldade dos homens e nos transformou em criaturas novas. Ao ressuscitar, Jesus não voltou atrás, como aconteceu com Lázaro, mas foi além da morte, assumindo uma condição que escapa à nossa compreensão e à nossa experiência. Esse destino nos espera depois de nossa morte.
A Eucaristia é a celebração plena da morte e ressurreição de Jesus. Doce e grandioso mistério que nos pavimenta a vida eterna.
Assim, todos nós somos convidados a fazermos a passagem, relembrando Santo Agostinho: “Passar é preciso!” Passar de onde e para onde? De onde estamos, envoltos em trevas, para a luz da ressurreição; de onde estamos, amarrados pelo egoísmo, para o amor partilhado; de onde estamos, cercados de erros que dividem, para o campo da verdade, que acolhe e unifica. Passar de onde estamos, gananciosos e armados de medo, para a pureza do desapego e da fraternidade; de onde estamos, abrindo fossos de autoproteção, para as pontes de paz, que facilitam o encontro; de onde estamos, marcados pelo pecado, para a graça, que é a marca dos filhos de Deus.
A memória de Jesus, na Palavra e na Eucaristia, ensina-nos que ele vive conosco. Ele é o centro de nossa vida. Temos que relacionar tudo com ele, enxergar tudo à sua luz, que venceu as trevas, a vida que venceu a morte. Isso é vivenciar a ressurreição de Cristo em nossa própria vida, procurar as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita do Pai, conforme nos ensina a segunda leitura de hoje. A nossa vida velha e abatida morreu, temos uma vida nova escondida lá com ele. Isso transforma nosso modo de viver. Mesmo se exteriormente andamos envolvidos com as lidas e as lutas desta sociedade injusta, interiormente já não nos deixamos vencer por ela. Após uns pequenos três dias, experimentamos a presença daquele que venceu a morte. Por isso, vamos viver de cabeça erguida, os olhos fixos em nossa verdadeira vida, que está nele. Se o pecado nos abate, vamos abrir-nos na comunidade, no sacramento. Se a injustiça nos faz morrer, vamos unir-nos em comunidade em torno a Cristo. Isto é Páscoa, nossa ressurreição em Cristo.
O Senhor Jesus, cujo túmulo hoje foi encontrado vazio, vida que venceu a morte e os infernos, está vivo aqui conosco. Ele está presente de modo invisível, na Palavra que ouvimos e meditamos, na pessoa de cada um de nós, na nossa comunidade orante reunida e no pão consagrado.
Refletimos, pois, sobre o sepulcro vazio, os gestos de amor de Cristo e o testemunho do Cristo ressuscitado. Portanto, Jesus se fez Páscoa, surge a vida, onde as pedras são retiradas dos sepulcros, onde se vive a caridade no serviço ao próximo. Estes são os sinais de que Jesus cristo continua ressuscitando hoje. Eles anunciam a sua ressurreição e suscitam nova vida, pois retiram todas as barreiras que atentam contra vida.
Jesus ressuscitou verdadeiramente, Aleluia! Aleluia! Aleluia