terça-feira, 13 de abril de 2010

O zelador da fonte

Conta uma lenda austríaca que em determinado povoado, havia um
pacato habitante da floresta que foi contratado pelo Conselho
Municipal para cuidar das piscinas que guarneciam a fonte de água da
comunidade.

O cavalheiro com silenciosa regularidade, inspecionava as
colinas, retirava folhas e galhos secos, limpava o limo que poderia
contaminar o fluxo da corrente de água fresca.

Ninguém lhe observava as longas horas de caminhada ao redor das
colinas, nem o esforço para a retirada de entulhos.

Aos poucos, o povoado começou a atrair turistas. Cisnes
graciosos passaram a nadar pela água cristalina.

Rodas d´água de várias empresas da região começaram a girar dia e noite.

As plantações eram naturalmente irrigadas, a paisagem vista dos
restaurantes era de uma beleza extraordinária.

Os anos foram passando. Certo dia, o Conselho da cidade se
reuniu, como fazia semestralmente.

Um dos membros do Conselho resolveu inspecionar o orçamento e
colocou os olhos no salário pago ao zelador da fonte.

De imediato, alertou aos demais e fez um longo discurso a
respeito de como aquele velho estava sendo pago há anos, pela cidade.

E para quê? O que é que ele fazia, afinal? Era um estranho
guarda da reserva florestal, sem utilidade alguma.

Seu discurso a todos convenceu. O Conselho Municipal dispensou
o trabalho do zelador da fonte de imediato.

Nas semanas seguintes, nada de novo. Mas no outono, as árvores
começaram a perder as folhas.

Pequenos galhos caíam nas piscinas formadas pelas nascentes.

Certa tarde, alguém notou uma coloração meio amarelada na
fonte. Dois dias depois, a água estava escura.

Mais uma semana e uma película de lodo cobria toda a superfície
ao longo das margens.

O mau cheiro começou a ser exalado. Os cisnes emigraram para
outras bandas. As rodas d´água começaram a girar lentamente, depois
pararam.

Os turistas abandonaram o local. A enfermidade chegou ao povoado.

O Conselho Municipal tornou a se reunir, em sessão
extraordinária e reconheceu o erro grosseiro cometido.

Imediatamente, tratou de novamente contratar o zelador da fonte.

Algumas semanas depois, as águas do autêntico rio da vida
começaram a clarear. As rodas d´água voltaram a funcionar.

Voltaram os cisnes e a vida foi retomando seu curso.

* * *

Assim como o Conselho da pequena cidade, somos muitos de nós
que não consideramos determinados servidores.

Aqueles que se desdobram todos os dias para que o pão chegue à
nossa mesa, o mercado tenha as prateleiras abarrotadas; os corredores
do hospital e da escola se mantenham limpos.

Há quem limpe as ruas, recolha o lixo, dirija o ônibus, abra os
portões da empresa.

Servidores anônimos. Quase sempre passamos por eles sem vê-los.

Mas, sem seu trabalho, o nosso não poderia ser realizado ou a
vida seria inviável.

O mundo é uma gigantesca empresa, onde cada um tem uma tarefa
específica, mas indispensável.

Se alguém não executar o seu papel, o todo perecerá.

Dependemos uns dos outros. Para viver, para trabalhar, para ser felizes!