sexta-feira, 25 de setembro de 2009

VIRTUDE CELESTE

Se a noite o surpreendeu de coração ferido ou de cérebro açoitado por amargos arrependimentos, não se renda à dor que lhe parece irremediável...

Enquanto a sombra se estende ao longo do caminho, e a ventania sopra, qual lamentoso grito de angústia, fite as estrelas que cintilam nas alturas e siga adiante, ao encontro do novo dia.

Não pode? Tremem-lhe os pés sob o fardo da aflição? Enrijeceram-se as fibras de sua alma e não consegue nutrir um novo sonho?

Erga uma prece à esperança, esse gênio da luz que nos permite antever o porvir imenso.

Recolha-se à oração e ela virá, doce e infatigável enfermeira, balsamizar-lhe as chagas interiores e sustentar-lhe as energias semimortas.

Atenda-lhe o apelo carinhoso e prossiga sem desfalecimento.

Não permita que o elixir entorpecente da inércia ou o fel corrosivo do sofrimento o enfraqueça.

Aceite as sugestões do gênio amigo e reflita...

Sentirá no próprio coração dores maiores que a sua, os pavores dos grandes infelizes, as úlceras cancerosas de milhões que, até agora, você não conseguira ver.

Então, inefável consolo baixará do céu sobre a sua dor, aquietando-lhe a ânsia.

Inexprimíveis sentimentos desabrocharão em seu espírito, e seus braços se abrirão para acolher as dores ignoradas dos seres mais humildes da terra.

Nem todos sabem avaliar essa virtude celeste. Muitos a transformam em vinagre de impaciência ou em tortura mortal, convertendo-lhe a bênção em estilete da enfermidade.

Felizes, porém, daqueles que lhe guardam a sublime claridade no âmago do espírito, porque verão a sabedoria do tempo, adquirindo com a vida a ciência da paz.

Espere! Diz a noite o dia voltará.

Espere! Clama a semente o fruto não tarda.

Espere! Anuncia a justiça e tudo recomporei.

Bem-aventurados, pois, quantos no mundo sabem aprender, servir e esperar!

* * *

Suporte com coragem o fardo de sua dor, avançando na estrada da vida heroicamente, ainda que seja um centímetro por dia...

Lembre-se de que hoje, a noite maternal lhe enxugará o pranto com o repouso obrigatório, e de que amanhã o dia voltará, renovando todas as coisas.

Lembre-se, ainda, que a esperança sempre surge com os primeiros raios da aurora.