terça-feira, 28 de setembro de 2010

Entre nós

Amar é importante.
Sentir o amor,
sentir-se amado é importante.

O grande mal que atinge
o mundo é a ausência daquilo que
chamamos o maior
de todos os sentimentos e a maior
dentre todas as coisas.

Não falo aqui do amor carnal,
embora este entre em conta
na contabilidade da felicidade
de cada um de nós.
O que falo é
no amor que gera a atenção,
aquele devido e reclamado
por cada ser,
mas mais reclamado que tudo,
como se o dar não fizesse parte do
acordo implícito em cada
relação humana.

As pessoas
desinteressam-se das outras,
porque dizem-se ter o suficiente
com os próprios problemas.
E o têm, provavelmente.
Mas o que gera o isolamento,
a solidão temida,
é justamente querer receber
aquilo que nos recusamos a dar.

O que falta é a atenção necessária
ao outro para sentir-se,
pelo menos,
ouvido e parte integrante
na roda da vida.

Cada um fala por si e poucos
são os que se importam realmente
com que o outro diz,
com seus reais sentimentos,
suas reais razões.

Muitas e muitas
vezes quando um fala,
o outro já está
preparando-se para dizer,
sem ponderar,
aquilo que ele mesmo
pensa ou sente.

Pessoas tornam-se assim,
surdas às outras,
porque só conseguem
ouvir a voz do próprio egoísmo,
não por maldade,
mas pelo apelo das próprias
necessidades.

Pessoas juntas sentem-se sozinhas,
casais unidos pela vida
sentem-se abandonados,
amigos criam relações superficiais,
pais e filhos distanciam-se.

Olhar nos olhos do outro é importante.
Perceber a dor ou a felicidade
e compartilhar dela é fundamental ao
outro na sua necessidade de
se sentir amado.

Poucos, raros mesmo,
são os que param o que estão
fazendo quando o companheiro,
amigo ou colega de trabalho
precisam falar.
Parte do que se diz fica
desconectada no ar e
a outra parte,
invariáveis vezes,
esquecidas depois.
Numa fração de segundo a frase
"do que mesmo estávamos falando?"
pode entrar na conversa,
deixar um sem ação e o
outro sem graça.

A atenção dada ou recebida faz
parte do tratamento e da cura
dos males que tomam
conta do mundo,
ela reforça relações,
cria laços, solda,
une e faz bem.

Não ouvimos Deus porque
não queremos ouvir,
porque, quem sabe,
o que Ele quer nos dizer nos
desagrada e contraria,
mas Ele fala e só percebemos
isso depois com o infalível
"eu sabia"
que nos fere como um punhal.

Não somos ouvidos por Ele porque
não abrimos inteiramente nosso eu,
temos sempre pressa,
estamos sempre ocupados.

Entre Deus e nós e entre nós
e os outros somos os que
definimos o tipo de relação que temos.

Podemos colocar o primeiro
tijolo ou esperar que
alguém o faça.
Porém a ordem com que
este é colocado influencia
e determina cada um dos nossos
passos e abre ou fecha para nós
as portas do paraíso.