Amores escolhidos

Nesses anos que moro aqui, vi muitas crianças tornarem-se adultos. São pessoas muito especiais para mim, pois aprenderam a conviver com esta minha maneira de ser desde que nasceram. Em cada uma vejo qualidades, beleza, inteligência; uns mais, outros menos, mas todos com o seu lugar especial em nosso convívio.

Os casais de idosos ocupam um espaço florido em minha vida. Eu sempre fui apaixonada pelos mais velhos. Quando olho para eles, toda uma vida passa aqui, bem na minha frente: a infância, os estudos, os “folguedos” (que palavra pouco usada hoje em dia...), o casamento, nascimento de filhos... e netos, bisnetos...

Todos são pessoas extremamente ativas e dedicadas um ao outro. O casal de 84 anos chama um ao outro “meu amor” e partilham cada grão de arroz juntos. Se pudessem mesmo, acho que pegariam este grão e o cortariam pela metade, um pedacinho pra cada um.

Há alguns anos um pássaro surgiu na varanda do apartamento deles. Trata-se de um calopsita, pássaro que canta e encanta. O casal procurou saber de onde havia surgido este espécime raro que a natureza nos presenteou, dentre tantos outros. Não conseguiram descobrir. Ligaram, então, para uma vizinha que é dona de um deles. Ela acolheu a mocinha cantadora, para fazer companhia ao Zezé.

Estamos nos reunindo todos os dias para fazer a novena de Natal. É um momento mágico. As crianças acompanham as orações e as maiores ajudam as mães no cuidado com os bebês. Depois da reunião, quitutes são oferecidos e conversamos. É muito acolhedor. Ontem a reunião foi na casa do pássaro que foi encontrado. Depois da novena, todos conversando na sala... e ouvimos um assovio lindo, ao som do Hino Nacional. Todos ficaram procurando o que estava acontecendo.

Confesso que fiquei tão encantada que não tinha palavras a dizer ... a não ser “Fantástico”.

Bem na frente da gente, uma garotinha de cinco anos regia uma orquestra de apenas um pássaro. Visões que nunca mais serão repetidas... simplesmente sem palavras.