domingo, 7 de fevereiro de 2010

Por que as folhas caem

A cada outono,
certas plantas e árvores
preparam-se para um repouso
necessário e vital à sua vida
e continuação.

Algumas espécies de árvores
matizam-se de várias cores,
num maravilhoso contraste entre
a melancolia e a beleza extrema.

Depois, uma a uma,
as folhas caem, como lágrimas,
até que as árvores, nuas e tristes,
abram os braços ao inverno e esperem,
pacientemente, a primavera,
que restaurará cada folha caída.

Por que para nós seria diferente?

Por que não
perder antes de reencontrar,
por que não as lágrimas,
por que não dias áridos,
frios e secos?

E por que não a esperança de que
a primavera volte?

Porque, creiam, ela volta sempre!

Talvez nos julguemos bons
demais para receber o sofrimento,
como se ele fosse sempre
símbolo de castigo e não algo
necessário ao nosso crescimento.

As folhas caem e as árvores
parecem assim tão desprotegidas,
tão solitárias!...
e eu me pergunto o que faz
com que sobrevivam.

Elas entendem que esse período
é necessário à sua renovação.
Elas aceitam,
doam-se e
esperam e recebem de volta,
no tempo oportuno.

Assim somos nós com todas
as perdas que sofremos,
com as lágrimas que escorrem
e salgam nossa boca,
com o tempo
que parece interminável
ou as noites longas demais.

Tanto que não entendemos
e não aceitamos o sofrimento,
ele se prolongará.
Tanto que não vemos isso
como uma fase,
apenas uma fase,
a ferida estará
aberta e sangrará.

Não aceitar o outono
e negar o inverno não faz
com que não existam.
Apenas nos deixam fora de
uma realidade que chega
pra todo mundo.

Não somos maus demais para
recebê-los como um castigo
e nem bons demais para que
possamos não acolhê-los.

As árvores perdem as folhas
e perdemos os nossos.
Elas choram
e choramos também.
Elas esperam e nada há que
nos impeça de esperar.

E elas recebem,
a seu tempo determinado,
novos galhos e novas folhas,
novas flores e novos frutos.
Sentem-se assim completas.

Somos assim o que somos
e o mesmo Deus que
sustenta as árvores,
nos sustenta a nós!

E Ele nos poda,
nos molda,
nos deixa nús
e aparentemente sem defesa,
mas está sempre presente
e estará ainda quando
a primavera voltar,
quando seremos,
depois do inverno frio,
renovados e prontos para
recomeçar.